quinta-feira, 20 de julho de 2017

Psicopedagogia Institucional: O Relato de Uma Experiência Pessoal



Olhando em retrospectiva, após quase dez anos de experiência na prática da Psicopedagogia em instituição escolar, percebo que as ações psicopedagógicas que fui desenvolvendo podem ser agrupadas a partir de dois critérios, que abrangem a totalidade das atividades realizadas na instituição. O primeiro critério vou chamar de Psicopedagogia como Pedagogia da Diferença; o segundo, de Psicopedagogia por Realização de Projetos. O paradigma do atendimento na Pedagogia da Diferença é o atendimento a cada um, de modo individualizado, enquanto que o paradigma na Psicopedagogia por Realização de Projetos é o atendimento a todos, ou seja, ao coletivo escolar.
Na Psicopedagogia como Pedagogia da Diferença, incluo todas as ações destinadas ao atendimento das necessidades educacionais decorrentes de dificuldades de aprendizagem, distúrbios e síndromes. Nesse caso, as ações exigem do psicopedagogo a tomada de consciência das principais características do quadro apresentado pelo educando em questão para, a partir disso, oferecer suporte pedagógico, por meio da orientação aos próprios educandos, aos educadores e às famílias presentes na comunidade. Para isso, o profissional deve estar a par das características das diferentes dificuldades que podem se instalar no processo de ensino e aprendizagem. Por exemplo, a dislexia, que constitui a hipótese diagnóstica apresentada por determinado (a) aluno (a), poderá exigir um programa de reforço distinto, mesmo no caso de dois sujeitos que apresentem esse quadro. No primeiro, pode estar envolvida predominantemente a rota lexical, enquanto em outro a rota fonológica poderá ser o âmbito de maior necessidade de intervenção, o que exigiria a apresentação de programas de intervenção distintos em alguns pontos. Além disso, um (a) dos (as) alunos (as) poderá apresentar comprometimento em aspectos emocionais, como em sua autoestima, enquanto o (a) outro (a) não demonstrará tal necessidade. Portanto, mais do que tomar conhecimento de um conjunto de características comuns à determinada dificuldade, o profissional irá se deparar com aspectos individuais que exigirão sua atenção. O desafio de um processo de acompanhamento psicopedagógico individualizado desfaz a ilusão de que dois educandos com a mesma dificuldade de aprendizagem podem ser atendidos de maneira idêntica.       
Além dessas ações, o bom acompanhamento do (a) educando (a) com dificuldades de aprendizagem exige a elaboração de informes psicopedagógicos que serão enviados aos demais especialistas da rede de apoio que acompanhem o caso. Pode acontecer, por exemplo, de um (a) mesmo (a) aluno (a) ser atendido por diferentes especialistas, como pediatra, fonoaudiólogo (a) e psicólogo (a). Quando reunidos periodicamente, esse relato pode resultar em uma discussão muito produtiva, já que haverá a oportunidade de uma abordagem inter e multidisciplinar, que poderá contribuir com uma síntese favorável no sentido de agilizar ações, poupando o (a) educando (a) e sua família de sofrer os efeitos da morosidade decorrente do trânsito desnecessário entre especialistas, o que resultaria em ações ineficazes à promoção do tratamento.
Na Psicopedagogia por Projetos, como afirmado anteriormente, a ações se destinam a toda a instituição. Nesse sentido, o profissional precisa tomar conhecimento das condições específicas da clientela onde desenvolve suas atividades. Assim, as principais vulnerabilidades apresentadas em determinada comunidade poderão envolver situações recorrentes de bullying entre os (as) alunos (as), risco de drogadição ou maior incidência de casos de gravidez na adolescência, para mencionar apenas alguns exemplos em que pude observar a obtenção de resultados positivos após a realização de projetos de iniciativa de profissionais da Psicopedagogia.
Em cada caso, será necessária a reflexão sobre o problema, esclarecendo de que maneira ele constitui um entrave ao processo educacional, bem como elencar as ações necessárias para minimizar suas consequências sobre o aprendizado. Portanto, a realização de projetos será precedida de uma investigação que aponte as maiores dificuldades presentes na comunidade, resultando em ações direcionadas aos educadores, educandos e famílias. Para tanto, no caso de temas que exigem a abordagem especializada e que transcendem o campo de formação do profissional, este poderá verificar os recursos humanos disponíveis para a realização do projeto, convidando outros profissionais para colaborar, por meio da realização de palestras envolvendo temas específicos, por exemplo.
Acredito que várias consequências positivas podem decorrer da atuação do profissional de Psicopedagogia em instituições. Ressalto, a seguir, algumas das que acredito serem as mais significativas. No desempenho da Psicopedagogia como Pedagogia da Diferença, um desses aspectos positivos se relaciona às próprias condições de formação do profissional na área da Psicopedagogia, pois esta o instrumenta para realizar a orientação do processo educacional de forma imediata, isto é, sem a necessidade de recorrer a outro tipo de apoio, nos casos relacionados à grande parte das dificuldades no processo de aprender. Outro aspecto que merece atenção é que a presença da Psicopedagogia na instituição, enquanto campo de investigação interdisciplinar e multidisciplinar, favorece as condições para a efetiva inclusão do (a) educando (a) no sistema educacional, proporcionado o apoio individualizado necessário para tanto, uma vez que o (a) psicopedagogo (a) se coloca como mediador (a) do processo, ao desempenhar ações que transitam entre a educação e os demais serviços necessários ao atendimento das necessidades individuais, como a saúde e a assistência social. Ressalto ainda que a presença do profissional na instituição escolar colabora para efetivar o ideal educacional da formação permanente, pela instauração da interlocução no processo educativo. Por fim, gostaria de destacar que, na Psicopedagogia por Projetos, o profissional desenvolve ações que auxiliam o processo educacional dentro de uma perspectiva global do desenvolvimento humano, contemplando a afetividade, o autocuidado e a responsabilidade coletiva, resultando em uma prática capaz de dinamizar os esforços da instituição em favor de uma educação para a vida em sociedade.  
          

domingo, 28 de maio de 2017

Contribuições da Psicopedagogia à Oferta de Uma Educação Individualizada

Art. 54. É dever do estado assegurar à criança e ao adolescente:”

“V – Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um” (ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente).  

   
Considerando-se as premissas anteriores, expressas pelo artigo de Lei correspondente à Lei 8.069, de 13-7-1990, podemos concluir que o referido princípio se baseia em uma idéia de “equidade”, pois esta noção traz, entre seus significados, de acordo com o “Mini Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”, a definição: “2. Igualdade, equivalência (e. de direitos)”. Porém, conforme definição dada a seguir, também comporta a idéia de “diferenciação”.
A educação é um direito reservado a todos, embora a oferta educacional não devesse ser feita sem a consideração das especificidades do desenvolvimento do sujeito a quem se propõe educar. Isso porque, ainda que pertencentes a uma mesma faixa etária e turma, as crianças poderão apresentar particularidades em seu desenvolvimento, estando umas mais adiantadas, enquanto outras necessitarão de mais tempo para alcançar os estágios já atingidos por outros indivíduos da mesma turma.  
Disso decorre que o profissional de Psicopedagogia possui um papel importante quanto à garantia de direitos do público-alvo de sua ação, da mesma maneira que se lhe apresenta uma tarefa complexa, que se constituirá da relevância de sua atenção dedicada a cada criança de modo individual.
Nesse sentido, é apresentado o caso a seguir, como exemplo da importância de se observar as necessidades individuais dos aprendizes desde o período inicial de sua escolarização, pois a proposição de intervenções destinadas a complementar e/ou suplementar a educação poderá encontrar melhores resultados quando a identificação for feita nos períodos iniciais do desenvolvimento.    

    


Estudo de Caso

Dados Pessoais

Nome da Criança: Laura (fictício)

Data de Nascimento: 28\07\2013

Idade: 3 anos e 9 meses

Queixa Psicopedagógica: A criança demonstra grande facilidade para o aprendizado e interesse pelos estudos.

Anamnese Psicopedagógica

Em vista das características apresentadas pela criança em seu aprendizado, o que envolve o grande interesse pelos assuntos escolares, bem como a facilidade para aprender tudo o que lhe é ensinado, a genitora solicitou uma avaliação psicopedagógica das atuais condições de desenvolvimento de L.
Assim sendo, a responsável compareceu para a realização da entrevista, momento em que apresentou as seguintes informações. A mãe é profissional autônoma e o pai é funcionário público. L. é a filha mais nova do casal, irmã de dois meninos, um com sete e outro com 13 anos de idade. Ambos os genitores frequentam curso superior.  
Na história de desenvolvimento dos filhos, a entrevistada observou que todos apresentaram características diferenciadas quanto ao aprendizado, tanto escolar quanto informal. Isso foi exemplificado com o relato dos acontecimentos relacionados ao filho mais velho, que se destacou em concurso por bolsa de estudos no colégio onde estuda atualmente. Ambos os meninos vem apresentando histórico de facilidade para a obtenção dos conceitos escolares, o que se repete atualmente na escolarização de L. Outra característica diz respeito à autonomia apresentada pelas três crianças em relação às questões do aprendizado. Nesse momento, foram mencionadas as observações das pessoas que convivem no dia a dia com a L., no meio escolar e extraescolar, de que a criança vem apresentando excelente memória e rapidez no aprendizado. Conforme a genitora expressou: “ela aprende rápido e retém tudo o que é ensinado”.
Uma das professoras atuais de L. observou, em conversa com a genitora, que a criança demonstra facilidade para a aprendizagem dos vocabulários de língua estrangeira, superando as expectativas pedagógicas para o momento, de acordo com as metas estabelecidas para a faixa etária em que a criança se encontra. Outra característica observada no perfil de desenvolvimento da criança diz respeito às iniciativas de liderança entre seus pares. Quanto ao interesse pelos estudos, L. se destaca ainda mais, em relação ao que a responsável observou na história escolar dos dois primeiros filhos, decorrendo disso a preocupação dos genitores no sentido de que a criança receba estímulos desafiadores ao seu estágio de desenvolvimento atual. Também foi observado que a criança demonstra uma atitude muito observadora em relação às situações do dia a dia e responsabilidade com suas obrigações, acima do que é esperado para a sua idade. Nesse sentido, apresenta autonomia e iniciativa para a realização das tarefas escolares feitas no espaço do lar.
No meio familiar, procura-se oferecer um ambiente estimulador, o que contribui para as condições de desenvolvimento da criança. L. evidencia interesse por desenhos, pinturas e livros contendo assuntos próprios para a sua idade, apreciando muito as histórias que a genitora conta para ela antes da hora de dormir. Nas demais características de seu desenvolvimento, mostra-se uma criança feliz e apresenta boas condições de saúde.

Atendimento à Criança

Durante atendimento psicopedagógico, foram oferecidas várias atividades, a fim de verificar o grau de dificuldade com que a criança as realizaria. Para isso, nos baseamos nas características de desenvolvimento, conforme expostas por De Lamare (1992) e Smith (2007), assim como por Maureen (2007) e Mèredieu (2006), sendo que estas duas últimas autoras estudaram as características apresentadas pelo grafismo de crianças de diferentes idades.
Durante o período de observação psicopedagógica, L. demonstrou capacidade para perceber e nomear as formas geométricas básicas. No que diz respeito à reprodução das mesmas, apresentou as dificuldades próprias de sua fase de desenvolvimento, quando a percepção já evoluiu, porém o controle motor fino ainda encontra-se em construção. A forma de seus desenhos encontra-se na fase da figura-girino (membros saindo da cabeça), evoluindo, em outras situações, para a figura humana com tronco. O predomínio de formas circulares se deve às características do próprio processo de desenvolvimento (Mèredieu, 2006, p. 20 e 28). Nos desenhos que elaborou, o boneco-girino se reveza com o boneco-estrada, sendo o último a própria manifestação da evolução do boneco-girino de dois membros (op. cit. p. 33), como forma de conflito própria da evolução cognitiva, procedendo por momentos de avanços e retrocessos.   
Quando se observam os detalhes do grafismo, a figura humana se apresenta pouco acima das expectativas estabelecidas para o quarto ano de vida, quando se espera entre quatro e sete detalhes (De Lamare, 1992). Nesse sentido, a criança incluiu oito detalhes na elaboração da figura humana (cabeça, olhos, nariz, boca, orelhas, tronco, pernas e braços). Esse fato seria indicador de que a criança apresenta boa capacidade de observação, em conformidade com as impressões relatadas pela genitora durante a entrevista.
Dentro da evolução da capacidade de organizar, foi capaz de dispor cinco objetos de tamanhos diferentes, de acordo o comprimento crescente. Quanto à comunicação, a criança mostra-se bem comunicativa, expressando-se sobre os assuntos de sua vida escolar e extraescolar. Nas tarefas motrizes, realizou as atividades propostas, quanto aos movimentos motores amplos, de salto, equilíbrio e atividade proprioceptiva esperadas para o quarto ano de vida, conforme os marcos do desenvolvimento propostos por De Lamare (1992) para essa faixa etária. Apresentou o conhecimento das cores primárias e algumas das secundárias, reconhecendo oito cores ao total.       
Em relação aos conhecimentos escolares, contou os objetos apresentados corretamente até 20. Conseguiu identificar e nomear quase todas as letras do alfabeto. Não nomeou as letras “K”, “Q”, “W”, “Y” e “Z”.

Sobre a Aprendizagem Significativa

A fim de contribuir com as melhores condições ofertadas a cada criança, seria útil considerar o conceito de “aprendizagem significativa”, o qual constitui um assunto tão relevante para o desenvolvimento individual, que vem sendo retomado por vários autores desde que foi originalmente apresentado pelos pesquisadores Ausubel, Novak e Hanesian (1980, p. 34).
A respeito disso, Budel & Meier (2012, p. 147), ao abordarem sobre os diversos tipos de mediação, mencionam o conceito de “mediação do significado”, afirmando que:

“um conceito é significativo quando se interliga a outros já aprendidos pelo sujeito” (Ausubel; Novak; Hanesian, 1980). Por exemplo, ao ouvirmos uma palavra conhecida somos capazes de realizar várias lembranças, o que não ocorre quando a palavra é desconhecida. ““Enriquecer” o significado de um conceito é ampliar suas possibilidades de uso ou relacioná-lo ao maior número possível de outros conceitos”.

Isso significa que, se deixada dentro de um contexto que não proponha novos desafios, não levando em conta os estágios já alcançados nos conhecimentos, o avanço da criança no aprendizado escolar correria o risco de ficar estagnado. Como a avaliação demonstrou que a criança já atingiu metas de desenvolvimento esperadas para o quarto ano de vida, e como os relatos da genitora sobre a aprendizagem da criança concordam com o que foi observado durante o atendimento, seria importante, para os progressos posteriores da criança, considerar com atenção a possibilidade de ajudá-la a atingir as condições de aprendizagem significativa, por meio da oferta de estímulos adicionais àqueles ofertados em sua escolarização neste momento.

Considerações Finais

Levar em conta os aspectos globais do desenvolvimento infantil possibilita ao psicopedagogo contribuir, enquanto profissional de ajuda, na garantia da defesa de direitos da criança, inclusive para articular ações visando adequar as estratégias de ensino às características próprias do desenvolvimento de cada criança. A necessidade de um olhar precoce se justifica em decorrência da relevância dos anos iniciais da vida para o desenvolvimento posterior saudável do sujeito. Quando os aspectos identificados ultrapassam o campo de atuação do próprio profissional de Psicopedagogia, a identificação das necessidades existentes poderá ser o início de outras ações necessárias, como encaminhamentos para profissionais de outras especialidades. No presente caso, a conclusão evidenciou ser necessária a articulação do trabalho psicopedagógico com o pedagógico, sugerindo estimulação suplementar para atender as necessidades atuais relativas ao desenvolvimento da criança. Nesse sentido, a Psicopedagogia pode trazer contribuições destinadas à reflexão sobre a importância de se pensar em ações para a promoção de um ensino baseado na necessidade da oferta de educação individualizada.  

     
Bibliografia

AUSUBEL, David P.; NOVAK, Joseph D.; HANESIAN, Helen. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro: Editora Interamericana, 1980.
BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente: (Lei n. 8069, de 13-7-1990). São Paulo: Saraiva, 2005.
BUDEL, Gislaine Coimbra; MEIER, Marcos. Mediação da aprendizagem na educação especial. Curitiba: Ibpex, 2012.
COX, Maureen. Desenho da criança. São Paulo: Martins Fontes, 2007
DE LAMARE. A vida de nossos filhos de 2 a 16 anos. Rio de Janeiro: Bloch Ed., 1992. 15 ed.
HOUAISS, Antônio. Minidicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.
MÈREDIEU, Florence de. O desenho infantil. São Paulo: Cultrix, 2006.

Smith, Corinne. Dificuldades de aprendizagem de A a Z : um guia completo para pais e educadores. Porto Alegre: Artmed, 2007.

terça-feira, 9 de maio de 2017

“Valores: Os Verdadeiros Pilares da Convivência”



Palestra Para Os Pais

“Minha receita de felicidade é construir uma família bem alicerçada no amor, na verdade e na sinceridade. Não há terremoto que derrube a muralha do amor de uma família com esses alicerces. O resto é resto” (Barros, 2002, p. 50).


Como o nome diz, os valores dizem respeito àquelas atitudes que valorizamos e que, portanto, desejamos estabelecer como base de nossa convivência.

Valores Necessários ao bom Relacionamento Familiar:

Como anda o diálogo na família?

Dialogar é um exemplo de atitude que ajuda as crianças a desenvolver bons valores de convivência. 

Em relações equilibradas, existe respeito

“O respeito é a parede que separa o direito dos deveres” (Barros, 2002, p. 50).
Assim, ajude a criança a compreender a importância do respeito para os relacionamentos. Crianças muito novas podem não compreender a reciprocidade das relações humanas. Um bom modelo de relacionamento e disposição para dialogar pode ajudar a criança a compreender a importância do respeito, seus direitos e deveres.  
 

Transmitir alegria é transmitir segurança

Você não precisa dizer que está feliz ao lado de uma criança. Alguns estudos mostram que a linguagem corporal, que transmitimos inconscientemente, durante os relacionamentos sociais, representa uma parte significativa de nossa comunicação. Portanto, que tal reservar um momento para que você e seu (sua) filho (a) realizem uma atividade prazerosa juntos?  

Promover a paz é transmitir segurança

Não permita que a violência entre em sua casa. Todo tipo de violência, seja verbal ou física, distancia as pessoas. A aproximação, ou o fortalecimento de vínculos, depende da habilidade para conversar e da disposição para orientar em relação ao que se espera que as crianças façam.  

Fortalecer os laços afetivos

Tenho observado que ansiedades intensas podem ser sintoma da falta de diálogo entre pais e filhos. Então, por que deixar as coisas chegarem a esse ponto, quando um pouco de atenção e diálogo poderia evitar que isso acontecesse? 

Amor: o ingrediente indispensável ao desenvolvimento da criança

Quando a criança se sente amada, encontra condições favoráveis ao desenvolvimento de sua inteligência, pois:

“Quanto mais a criança é estimulada com afeto, nos primeiros anos de vida, maior a sua capacidade de aprendizado e de desenvolver a inteligência” (Lobo, 1997, p. 558). 

Evidência científica sobre a influência da afetividade no desenvolvimento cognitivo

Lobo (1997, p. 573) aponta evidências de que o “carinho físico” e condições ambientais favoráveis são capazes de favorecer o aumento da inteligência. Nesse sentido, oferece um exemplo. Uma criança que tinha mãe e avó com uma medida de QI (Quociente de Inteligência) de 40, ao receber os estímulos necessários, apresentou, na vida adulta, uma medida de 120 nesse teste.
Dessa experiência, se pode concluir que a potencialidade humana não se desenvolve em condições desfavoráveis da mesma maneira que se desenvolveria em um ambiente que transmite afeto, segurança, limites e estímulos variados. Portanto, podemos concluir que as condições familiares podem trazer grandes contribuições ao desenvolvimento e à aprendizagem das crianças.
Quanto mais a família e a escola se unirem com o objetivo de promover as condições necessárias ao desenvolvimento da criança, melhores serão os resultados alcançados. O que fizermos no presente, trará consequências para a vida toda.
Então, o desafio está lançado. Vamos trabalhar juntos?

Bibliografia

BARROS, Gilberto. Você já abraçou seu filho hoje? São Paulo: Editora Gente, 2002.
LOBO, Luiz. Escola de pais: para que seu filho cresça feliz. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 1997.

quarta-feira, 29 de março de 2017

O Projeto GASA (Grupo de Apoio à Sala de Aula) como Exemplo de Atuação Psicopedagógica na Instituição Escolar

Os Parâmetros Curriculares Nacionais apresentam como objetivos gerais do ensino fundamental (Brasil, 1997, v. 8), entre outros:

“Compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si mesmo o respeito”.

Outras questões que o referido documento ressalta, dizem respeito ao desenvolvimento da capacidade crítica, da responsabilidade, do aprendizado do diálogo como ferramenta de mediação de conflitos e tomada de decisões, do autocuidado e à apropriação do sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, cognitiva, ética, estética, etc (idem). Dessa maneira, o referido documento expressa o ideal educacional almejado.
Por outro lado, pode-se observar que a Constituição da Organização Mundial da Saúde apresenta a seguinte afirmação, que poderíamos compreender como a expressão do ideal de pessoa saudável:

“A saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade”.

Mais adiante, o referido documento afirma ainda que:

“O desenvolvimento saudável da criança é de importância basilar; a aptidão para viver harmoniosamente num meio variável é essencial a tal desenvolvimento”.

Assim, é possível perceber que as metas da educação e da saúde confluem para um objetivo comum, que é o desenvolvimento do potencial humano e a convivência em sociedade.  
Nesse sentido, as contribuições do profissional de Psicopedagogia à instituição escolar consiste em ações que transitam entre esses dois campos. Aliás, tal prática está prevista já no Artigo 1º do Código de Ética do Psicopedagogo, o qual dispõe:

“A Psicopedagogia é um campo de atuação em Educação e Saúde que se ocupa do processo de aprendizagem considerando o sujeito, a família, a escola, a sociedade e o contexto sócio-histórico, utilizando procedimentos próprios, fundamentados em diferentes referenciais teóricos”.
  
Dessa maneira, o profissional de Psicopedagogia que atua na instituição escolar tanto propõe ações visando reverter problemas já instalados, por meio dos encaminhamentos que realiza para diferentes profissionais (médicos, assistentes sociais, etc), como também atua preventivamente, executando ações que contribuam para o bom funcionamento individual e coletivo dentro da instituição.

O Início do Projeto GASA (Grupo de Apoio à Sala de Aula)

Como exemplo de atuação psicopedagógica na instituição, podemos mencionar o projeto GASA (Grupo de Apoio à Sala de Aula), o qual nasceu da necessidade de reflexões com os educandos a partir de temas que não estão presentes de modo frequente no dia a dia escolar.
Para a realização da intervenção, a queixa inicial pode partir dos coordenadores pedagógicos, dos próprios professores e até por iniciativa do profissional de psicopedagogia, especialmente nos casos preventivos. Em geral, a intervenção do projeto GASA costuma ser pontual. Nesse caso, frequentemente é o (a) educador (a) que observa a necessidade do desenvolvimento de uma reflexão sobre um tema específico com a turma, o qual pode estar relacionado à convivência, à responsabilidade, aos autocuidados, etc. Após ser definido o tema da intervenção psicopedagógica, bem como o horário mais adequado à reflexão com a turma, o profissional de Psicopedagogia prepara os materiais necessários, planeja sua intervenção e em seguida a realiza.
Além da contribuição promovida junto ao corpo discente, o projeto oferece a oportunidade ainda de fortalecer a cooperação entre psicopedagogos e professores, de modo que a história da parceria entre psicopedagogos institucionais e professores de salas regulares tem apresentado resultados muito positivos na cidade onde atuo como psicopedagogo desde 2008, como funcionário efetivo por meio de concurso público.


Consulta

Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: apresentação dos temas transversais, ética. Brasília: MEC/SEF, 1997. 146 p.  



segunda-feira, 27 de março de 2017

O Teatro Psicopedagógico Como uma Ferramenta Para a Transformação das Relações Interpessoais no Espaço Escolar




Justificativa:
No momento atual, muitas queixas elaboradas ao psicopedagogo estão relacionadas a questões envolvendo a convivência no espaço escolar. Muitos conflitos intrapessoais se manifestam na escola, o que pode oportunizar iniciativas psicopedagógicas que promovam a reflexão nesse espaço, favorecendo a humanização de todos os envolvidos no cotidiano da instituição. Em postagem futura, apresentarei observações relacionadas à discussão do texto e ensaio com os alunos. Estamos dando os primeiros passos no estudo das possibilidades de aplicação do teatro como ferramenta psicopedagógica e estamos conscientes de que este se trata de um trabalho com limitações, como ocorre com todo trabalho em fase inicial. Acreditamos que o tema poderá favorecer o trabalho com diversos assuntos relacionados à infância e à adolescência posteriormente.

Peça de Teatro

Título: “Atitudes que Fazem a Diferença”.

Personagens: Florista, Andreia, Paula, Pedro, João, André, Professor, Professora, alunos.
Cena 1
Florista (com o regador) – Sabe o que estou fazendo? Regando uma amendoeira. A amendoeira é uma planta interessante. No inverno, as suas folhas e flores secam e caem. Mas ela renasce e logo volta a florir e a produzir, quando as demais flores ainda não dão qualquer sinal de vida.
(Vai saindo de cena)

Cena 2
(composta de professora e alguns alunos)
Professora: Agora, vocês podem passar para a atividade no final unidade 1.
Paula: Ana, você me empresta o lápis de cor vermelha?
João: Eu empresto para você. Toma.
Paula: Quem foi que falou com você?
João: Eu só queria ajudar.
Paula: Cala a boca.
(Todos saem de cena)

Cena 3
Pedro: No final de semana nós vamos jogar contra um time do meu bairro. Nós precisamos de mais um jogador. Alguém se interessa?
João: Eu quero.
Pedro: Você, não. Não quero nenhum “perna de pau” no meu time.
(Pedro ri e, em seguida, alguns colegas da sala riem também)
André: Eu posso jogar no seu time, João?
Pedro: Pode. Se precisar de carona, eu passo em sua casa. É caminho mesmo.
André: Não quero atrapalhar.
Pedro: Não vai atrapalhar nada.
(Todos saem da sala, ficando apenas João)
André: Então tá combinado.
(Os demais saem, ficando apenas João em cena)
João: (Falando em monólogo): Eu queria apenas que eles me aceitassem. Por mais que eu me esforce, eles só me maltratam. Não sei o quanto ainda vou aguentar.
(Senta, cobre a cabeça com as mãos, debruçando sobre os joelhos)

Cena 4
(Ocorre o diálogo entre duas jovens)
Andreia: Como vai?
Paula: Bem. Quer dizer, não muito bem. Acho que não me sinto muito disposta para ir à escola hoje.
Andreia: O que aconteceu.
Paula: As coisas não estão muito bem lá em casa. O meu pai perdeu o emprego. A minha mãe está com problemas de saúde. É muito conflito para a minha cabeça. Acho que não vou aguentar.
Andreia: Você parece mesmo desanimada. Onde está aquela amiga cheia de sonhos, que pensava em ser veterinária?
Paula: Do jeito que as coisas vão, já nem sei mais.
Andreia: Amiga, você não pode pensar desse jeito. Quando a gente perde a esperança, é difícil encontrar motivação para prosseguir. Você percebeu quantas amigas nossas estão assim como você? Eu estava fazendo uma pesquisa sobre ao assunto. Então, vou falar o que aprendi. Você está com um problema, todos na vida temos problemas de vez em quando. Então, vou ler para você alguns princípios que encontrei em minha pesquisa:
(Lendo)
1º princípio: aceitação. Isso significa que temos que reconhecer o problema. Negar o problema não o fará desaparecer.
2º princípio: abandone atitudes ineficazes. Todos nós temos nossos desafios. Não vai melhorar nada fazer os outros sofrerem porque estamos sofrendo.
3º princípio: recursos internos. É a nossa capacidade de passar pela situação sem nos desesperarmos. Você diz para si mesma que é capaz de suportar. Diz que vale apena lutar pelos seus sonhos. Diz que a vida, apesar dos problemas, vale a pena ser vivida.
4º princípio: recursos externos. Conte com as pessoas que você conhece, com seus familiares e amigos. E, se precisar de orientações, procure os profissionais que poderão ouvi-la e orientá-la.
5º princípio: persistência. Continue em frente, mesmo quando sente que isso é difícil.
6º princípio: pense em seus objetivos e o quanto será bom alcançar os seus sonhos.    
Então, vamos à escola?
Paula: Sim. Acho que estou me sentindo melhor agora.
(Saem de cena).

Cena 5
(As duas amigas tornam a entrar em cena, chegando à escola, onde estão o professor e alguns alunos).
Professor: (...) Dizem que era um cavalo de idade avançada, e que caiu em uma vala profunda. Em vez de tirá-lo dela, o dono achou que não compensaria o custo. Chamou alguns conhecidos, que começaram a jogar terra sobre o cavalo, que a princípio relinchou, como querendo pedir socorro. Depois de um tempo, vendo que deveria fazer algo, porque ficar parado não iria ajudá-lo em nada, o cavalo levantou. A cada pá de terra que jogavam para dentro da cova, ele sacudia a que caia sobre suas costas. Aos poucos, a terra acumulada e pisada pelo animal foi formando algo parecido com degraus. Ao se dar conta da possibilidade, o animal rapidamente saiu da cova, trotando em direção a sua liberdade. Assim é a vida.  Cada desafio que encontramos pode servir como a pá que sepulta nossos sonhos, ou como os degraus que nos levam em direção aos nossos objetivos. Depende de como reagimos aos desafios.  
(saem de cena)

Cena 6
Andreia: Então, o que você achou da aula hoje?
Paula: Achei que a escola tem uma importância em nossas vidas, maior do que eu imaginava. Para alcançar nossos sonhos precisamos aprender não apenas os conhecimentos, mas também as atitudes corretas diante da vida.
Andreia: Como não desanimar diante dos desafios.
Paula: Claro, lutar pelos nossos sonhos, apesar dos obstáculos que surgirem. Respeitar as outras pessoas, tentando nos colocar no lugar delas, para compreender que elas também podem estar sofrendo.
Andreia: Tchau amiga. Até a aula de amanhã.
Paula: Tchau e obrigada.

Cena 7
Florista: (Regando) A vida pode até não ser perfeita, ou como nós gostaríamos que fosse. Mas se você persistir diante dos desafios. E se você continuar regando seus sonhos, mesmo naquelas horas que se parecem com os invernos da vida, com certeza seus sonhos irão florir, assim como a amendoeira. 

Fim

Observação: Para a elaboração da cena 5, nos inspiramos em uma história disponível em: http://www.vozesdapaz.com.br/mensagens/2017/03/a-historia-do-cavalo/