quinta-feira, 20 de julho de 2017

Psicopedagogia Institucional: O Relato de Uma Experiência Pessoal



Olhando em retrospectiva, após quase dez anos de experiência na prática da Psicopedagogia em instituição escolar, percebo que as ações psicopedagógicas que fui desenvolvendo podem ser agrupadas a partir de dois critérios, que abrangem a totalidade das atividades realizadas na instituição. O primeiro critério vou chamar de Psicopedagogia como Pedagogia da Diferença; o segundo, de Psicopedagogia por Realização de Projetos. O paradigma do atendimento na Pedagogia da Diferença é o atendimento a cada um, de modo individualizado, enquanto que o paradigma na Psicopedagogia por Realização de Projetos é o atendimento a todos, ou seja, ao coletivo escolar.
Na Psicopedagogia como Pedagogia da Diferença, incluo todas as ações destinadas ao atendimento das necessidades educacionais decorrentes de dificuldades de aprendizagem, distúrbios e síndromes. Nesse caso, as ações exigem do psicopedagogo a tomada de consciência das principais características do quadro apresentado pelo educando em questão para, a partir disso, oferecer suporte pedagógico, por meio da orientação aos próprios educandos, aos educadores e às famílias presentes na comunidade. Para isso, o profissional deve estar a par das características das diferentes dificuldades que podem se instalar no processo de ensino e aprendizagem. Por exemplo, a dislexia, que constitui a hipótese diagnóstica apresentada por determinado (a) aluno (a), poderá exigir um programa de reforço distinto, mesmo no caso de dois sujeitos que apresentem esse quadro. No primeiro, pode estar envolvida predominantemente a rota lexical, enquanto em outro a rota fonológica poderá ser o âmbito de maior necessidade de intervenção, o que exigiria a apresentação de programas de intervenção distintos em alguns pontos. Além disso, um (a) dos (as) alunos (as) poderá apresentar comprometimento em aspectos emocionais, como em sua autoestima, enquanto o (a) outro (a) não demonstrará tal necessidade. Portanto, mais do que tomar conhecimento de um conjunto de características comuns à determinada dificuldade, o profissional irá se deparar com aspectos individuais que exigirão sua atenção. O desafio de um processo de acompanhamento psicopedagógico individualizado desfaz a ilusão de que dois educandos com a mesma dificuldade de aprendizagem podem ser atendidos de maneira idêntica.       
Além dessas ações, o bom acompanhamento do (a) educando (a) com dificuldades de aprendizagem exige a elaboração de informes psicopedagógicos que serão enviados aos demais especialistas da rede de apoio que acompanhem o caso. Pode acontecer, por exemplo, de um (a) mesmo (a) aluno (a) ser atendido por diferentes especialistas, como pediatra, fonoaudiólogo (a) e psicólogo (a). Quando reunidos periodicamente, esse relato pode resultar em uma discussão muito produtiva, já que haverá a oportunidade de uma abordagem inter e multidisciplinar, que poderá contribuir com uma síntese favorável no sentido de agilizar ações, poupando o (a) educando (a) e sua família de sofrer os efeitos da morosidade decorrente do trânsito desnecessário entre especialistas, o que resultaria em ações ineficazes à promoção do tratamento.
Na Psicopedagogia por Projetos, como afirmado anteriormente, a ações se destinam a toda a instituição. Nesse sentido, o profissional precisa tomar conhecimento das condições específicas da clientela onde desenvolve suas atividades. Assim, as principais vulnerabilidades apresentadas em determinada comunidade poderão envolver situações recorrentes de bullying entre os (as) alunos (as), risco de drogadição ou maior incidência de casos de gravidez na adolescência, para mencionar apenas alguns exemplos em que pude observar a obtenção de resultados positivos após a realização de projetos de iniciativa de profissionais da Psicopedagogia.
Em cada caso, será necessária a reflexão sobre o problema, esclarecendo de que maneira ele constitui um entrave ao processo educacional, bem como elencar as ações necessárias para minimizar suas consequências sobre o aprendizado. Portanto, a realização de projetos será precedida de uma investigação que aponte as maiores dificuldades presentes na comunidade, resultando em ações direcionadas aos educadores, educandos e famílias. Para tanto, no caso de temas que exigem a abordagem especializada e que transcendem o campo de formação do profissional, este poderá verificar os recursos humanos disponíveis para a realização do projeto, convidando outros profissionais para colaborar, por meio da realização de palestras envolvendo temas específicos, por exemplo.
Acredito que várias consequências positivas podem decorrer da atuação do profissional de Psicopedagogia em instituições. Ressalto, a seguir, algumas das que acredito serem as mais significativas. No desempenho da Psicopedagogia como Pedagogia da Diferença, um desses aspectos positivos se relaciona às próprias condições de formação do profissional na área da Psicopedagogia, pois esta o instrumenta para realizar a orientação do processo educacional de forma imediata, isto é, sem a necessidade de recorrer a outro tipo de apoio, nos casos relacionados à grande parte das dificuldades no processo de aprender. Outro aspecto que merece atenção é que a presença da Psicopedagogia na instituição, enquanto campo de investigação interdisciplinar e multidisciplinar, favorece as condições para a efetiva inclusão do (a) educando (a) no sistema educacional, proporcionado o apoio individualizado necessário para tanto, uma vez que o (a) psicopedagogo (a) se coloca como mediador (a) do processo, ao desempenhar ações que transitam entre a educação e os demais serviços necessários ao atendimento das necessidades individuais, como a saúde e a assistência social. Ressalto ainda que a presença do profissional na instituição escolar colabora para efetivar o ideal educacional da formação permanente, pela instauração da interlocução no processo educativo. Por fim, gostaria de destacar que, na Psicopedagogia por Projetos, o profissional desenvolve ações que auxiliam o processo educacional dentro de uma perspectiva global do desenvolvimento humano, contemplando a afetividade, o autocuidado e a responsabilidade coletiva, resultando em uma prática capaz de dinamizar os esforços da instituição em favor de uma educação para a vida em sociedade.