quinta-feira, 30 de outubro de 2014

ACOLHENDO E ESTIMULANDO POTENCIAIS: Uma Abordagem Voltada Para a Elaboração de Projetos Pedagógicos


Explicação Inicial
A apresentação deste material foi feita na semana de reflexões de práticas pedagógicas, no primeiro bimestre de 2014. Constitui apenas uma sugestão para iniciar o trabalho de atendimento ao público identificado dentro do critério AH/SD e não é uma proposta acabada. Espero que possa contribuir de alguma maneira para os interessados no assunto. 

Objetivos do Encontro
Promover, na Área de Educação, um olhar voltado para a valorização da diversidade, em que a escola contribua para desenvolver o sentimento de pertença em toda a sua clientela, favorecendo o acolhimento dos alunos com capacidade acima da média, por meio da identificação e estimulação de seus potencias.

O Atendimento ao Aluno com Potencial Acima da Média

Mesmo no caso do Brasil, o interesse pelo tema não é algo novo, o que pode ser percebido pelo que o autor a seguir afirma a respeito do mesmo:

 “E o superdotado gosta e precisa de programas variados, situações diferentes, provocações que permitam a ele experimentar, descobrir, investigar, pensar, porque sua necessidade intelectual é maior do que as da criança comum e ele exige uma dose maior de variedade, de originalidade, de desafios” (Lobo, 1997, p. 476). 
 
Questionamento

*     Quais são as Políticas Públicas que norteiam o atendimento aos estudantes que apresentam capacidade acima da média?

Marcos Legais

Ø  Em 1971, por meio da LDB (Lei 5692/71), em seu art. 9º, pela primeira vez encontramos referência ao tema “superdotação”, em texto de lei, tornando obrigatório o atendimento especializado desse público.

Ø  A Resolução CNE/CEB Nº 2 de 2001 - Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, em seu Art. 5º, considera educandos com necessidades educacionais especiais os que, durante o processo educacional, apresentem: [...] III – altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes (BRASIL, 2001, p. 2).

 

  A Constituição Federal de 1988, no Art. 206, inciso I, afirma a “igualdade de condições de acesso e permanência na escola”, o que resulta no surgimento de um marco legal que estabelece “como dever do Estado”, a oferta do atendimento educacional especializado, e assegura esse atendimento, “preferencialmente na rede regular de ensino” (Art. 208) (Brasil, 2010, p. 11).  

Questionamento

*     Quais são as práticas implementadas para esse atendimento?

Trabalhar com a diversidade

  Requer, antes de tudo, derrubar dois mitos. Primeiro: os estudantes que integram o público atendido no critério “altas habilidades/ superdotação” não devem ser vistos como “gênios” dotados de capacidades raras em tudo - só apresentam mais facilidade do que a maioria em determinadas áreas. Segundo: o fato de apresentarem maior facilidade em certas áreas do conhecimento não exige menor atenção por parte de seus educadores. Ao contrário, eles precisam de mais estímulo para manter o interesse pela escola e desenvolver seu talento - se não, corre-se o risco até mesmo de ocorrer evasão escolar.

Problema

Como oferecer um atendimento especializado de qualidade aos estudantes com capacidade acima da média?

PROJETOS

  Uma das maneiras de ofertar o atendimento especializado para os estudantes que apresentam maior facilidade de aprendizado e desempenho em determinada área do conhecimento seria por meio da oferta de projetos que contribuam para a estimulação de potencialidades. Para isso é necessário ter claros alguns pontos.

FILOSOFIA DE TRABALHO

  É importante que os professores optem por atitudes que contribuam para o desenvolvimento da autonomia da clientela atendida pelo projeto. Por exemplo, o professor de arte poderá negociar com os alunos o que eles preferem pesquisar em determinado momento, após discutir algumas opções, escolas, tendências, temas, etc. O professor deve mediar, incentivar e orientar, mais do que decidir pelos alunos.

MEDIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

  Este é um tópico que diz respeito a todo o coletivo escolar. Os autores Budel e Meyer (2012) apresentam doze tipos de mediação da aprendizagem, conforme propostas por Feuerstein. Dentre essas, apresentaremos as que acreditamos que podem contribuir para o trabalho com alunos identificados no critério “altas habilidades/superdotação”.

“Mediação do comportamento de compartilhar”.

  Compartilhar experiências do dia a dia fortalece os vínculos afetivos. Compartilhar as dificuldades e os êxitos do aprendizado também aproximam as pessoas porque ajuda a construir um ambiente mais humanizado. “A relação professor-aluno deve ser uma relação afetiva, de admiração e de respeito mútuos” (Budel; Meier, 2012, p. 154).

“Mediação da busca, planejamento e alcance dos objetivos”.

  O professor deve deixar claro para os alunos o objetivo de cada etapa de seu trabalho. Isso contribui para que o aluno aprenda a realizar planejamentos para sua própria vida.

“Mediação da busca pela adaptação a situações novas e complexas: o desafio”.

  Nesse tipo de mediação estão envolvidos dois aspectos: a familiaridade e a complexidade. A familiaridade envolve a consideração do eixo fácil/difícil. Deve-se oferecer tarefas que mantenham um equilíbrio, para que o aluno não se depare com algo muito fácil ou muito difícil. A complexidade considera o eixo simples/complexo. A pesquisa em uma fonte pode ser simples, mas se depender de diversas fontes, poderá ser algo complexo demais. A tarefa deve levar em conta a possibilidade do sujeito. Assim, não será demasiadamente simples ou complexa, mas desafiadora e estimulante. Para realizar esse tipo de mediação, o professor deve conhecer bem tanto o assunto trabalhado como o sujeito a quem a tarefa será proposta. Só assim pode elaborar desafios adequados, na medida certa.

“Mediação da consciência da modificabilidade”.

  Nessa forma de mediação o professor apresenta para o aluno os resultados alcançados em seu processo de aprendizado. A abordagem desse processo possibilita ao aluno perceber o quanto evoluiu.

“Mediação do sentimento de pertença”.

  Sentir que se pertence a um grupo é uma das coisas que contribui para o sentimento positivo de autoestima. “A solidão, sentimento contrário, é um fator que interfere negativamente na autoestima”. Elogiar é uma das maneiras de promover esse sentimento nos alunos. Isso pode ocorrer tanto a ele diretamente, quanto à sala a qual pertence, ou mesmo a um projeto do qual a escola participe, que o deixe orgulhoso de pertencer a tal instituição. “Assim, o professor pode ser fundamental na construção de um clima saudável para seus alunos. Ele deve agir de forma proativa, criando espaços que valorizem a participação do aluno e desenvolvam neste o orgulho de fazer parte da escola” (Budel; Meier, 2012 p.163).

AS ETAPAS DO PROJETO

  Primeira: identificação dos alunos com altas habilidades/superdotação.

  Segunda: elaboração do projeto com o coletivo escolar. Envolve a articulação do projeto, definindo os papéis de cada envolvido no atendimento aos educandos que compõem o público-alvo do mesmo.

   Terceira: Intervenção e Acompanhamento.

A IDENTIFICAÇÃO

  Quem faz?

  O professor polivalente, nas séries iniciais.

  O professor de área, nas séries subsequentes.

  Como faz?

  Os professores utilizam o checklist por áreas, a fim de observar as características do desenvolvimento do (a) educando (a).

No caso dos professores das séries de alfabetização, ao identificar crianças  com maior facilidade de aprendizado, poderão apresentar conteúdos mais avançados em relação ao ano escolar que a criança frequenta, caso o potencial demonstrado esteja relacionado aos conteúdos de sala comum, enquanto continua observando o caso, para a realização de um diagnóstico mais detalhado.

Identificação Por Áreas de Conhecimento ou Desempenho

  Matemática, linguagem, ciência, tecnologia da informação, geografia, arte, história, educação física, línguas estrangeiras modernas, música, educação religiosa, design e tecnologia, desenvolvimento pessoal, drama.

SEGUNDA ETAPA

  Elaboração do Projeto. Define: o papel de cada um no serviço de atendimento; tema e duração do projeto; conteúdos a serem trabalhados.

TERCEIRA ETAPA

  Acompanhamento e Intervenção. Consiste em acompanhar o projeto, realizando avaliações de seu andamento, identificando entraves e proporcionando os ajustes necessários. Para isso, é preciso ter claro o papel de cada participante no projeto.   

PROFESSORES

Cabe aos professores de sala, devido ao tempo que passam com os alunos, perceber os indícios que apontam para a existência de potencial elevado em qualquer das áreas já descritas. Em seguida, comunica suas observações ao coordenador pedagógica da escola.

COORDENAÇÃO

  Após comunicada pelos professores de sala comum, apresenta o caso ao (a) psicopedagogo (a) e professores da Sala Multifuncional. A equipe define, com a direção escolar, uma data para discutirem os casos e estabelecer as ações necessárias, juntamente com os professores (polivalente/de área).

  Ao longo do trabalho, a coordenação procurará manter um olhar global sobre o desenvolvimento do projeto, suprindo os recursos necessários, no que diz respeito aos conteúdos pedagógicos suplementares, com o apoio dos professores de área.

  A Coordenação buscará mediar o trabalho com os professores de Sala Multifuncional, disponibilizando os recursos pedagógicos ou fontes de consulta, como materiais didáticos (livros, sites educativos e outros), bem como identificar os recursos disponíveis na comunidade (bibliotecas, núcleos de atividades esportivas e culturais, etc), comunicando aos alunos do público-alvo do projeto sobre as datas de inscrições para participarem das referidas modalidades.

PSICOPEDAGOGO (A)

  Ao tomar conhecimento de que o (a) aluno (a) apresenta maior potencial em determinada área do desenvolvimento, ajudará na elaboração de estratégias pedagógicas. Isso será feito a partir da discussão do caso com o professor da Sala de Recursos Multifuncional. Cabe ao profissional de Psicopedagogia esclarecer aos pais, cujos filhos estejam inseridos no projeto, aspectos como os critérios de identificação e a importância de acompanhar o processo e incentivar a frequência dos filhos.

PROFESSORES DE SALA DE RECURSOS

  Esses profissionais poderão contribuir atuando como mediadores do atendimento. Após receberem as atividades sugeridas pelos professores que identificaram a área de conhecimento em que o aluno se destaca, trabalharão pelo período estabelecido para a duração do projeto. Buscarão efetivar as formas de mediação definidas anteriormente.

  Poderão auxiliar tomando conhecimento dos conteúdos que os alunos irão pesquisar na Sala Multifuncional, incentivando, valorizando e, quando necessários, disponibilizando acesso aos recursos de mídia para o aprofundamento do tema estudado. O professor de Sala Multifuncional deve ser, antes de tudo, um mediador, valorizando e estimulando a autonomia dos educandos.

PROFESSORES DE ÁREA

  Terão duas linhas principais de atuação quanto ao desenvolvimento do projeto:

  Primeira: discutirão as possibilidades, auxiliando o educando quanto à decisão pelo tema que será trabalhado, definindo também prazos, etapas, conteúdos a serem pesquisados, as formas de divulgação dos resultados do projeto.

  Segunda: apresentarão sugestões de atividades que serão disponibilizadas à Sala Multifuncional, para que os alunos possam pesquisar os conteúdos relacionados ao tema do projeto. Os professores de área específica dão suporte ao projeto em todas as suas fases e comunicam à coordenação as eventuais dificuldades encontradas em sua execução.

EDUCANDOS

A fim de receberem um atendimento de maior qualidade, serão agrupados por áreas afins ou por temas. Ou seja, alunos com facilidade na comunicação (escritores, desenhistas, contadores de histórias) poderão frequentar o projeto na mesma turma, caso se trate de um projeto coletivo. Outra opção seria agrupar apenas por áreas de desempenho (linguagem, matemática, arte, etc). Serão disponibilizados os materiais de consulta necessários. Eles deverão participar na elaboração do projeto, para que se sintam responsáveis pelas decisões, desenvolvam a autonomia, cumpram os prazos estabelecidos e aprendam a planejar suas ações.

PARCERIAS

A Equipe, composta dos profissionais da escola, incluindo psicopedagogos, coordenadores, professores de sala regular (polivalentes e de áreas específicas) e de Sala de Recursos assumirão a responsabilidade em conjunto pela elaboração do projeto de atendimento. Quando o atendimento não puder ser oferecido na própria escola, a coordenação se informará a respeito das possibilidades de parcerias com instituições existentes na comunidade.

A FAMÍLIA

  As famílias receberão orientações sobre o tema “altas habilidades/superdotação”. Isso inclui informar os responsáveis sobre os critérios utilizados para identificar o público-alvo do projeto, bem como os seus objetivos. A orientação familiar é importante, porque contribui para desmistificar ideias equivocadas sobre o assunto. Essas orientações serão oferecidas pelos profissionais de Psicopedagogia.

PROJETOS

  O projeto de atendimento será elaborado pelo coletivo escolar (professores, coordenadores, psicopedagogos, alunos). Como já mencionado, os alunos poderão ser atendidos de acordo com o critério de agrupamento por áreas afins ou de áreas específicas. A equipe define, na elaboração do projeto, aspectos como: dias e horários do atendimento; data de início; os temas que serão abordados; o tempo de duração do projeto; os critérios de avaliação; como os trabalhos serão divulgados, entre outros pontos. 

FUNÇÃO SOCIAL DO PROJETO

  Escrever apenas para ser avaliado pode ser um dos fatores que promovem a desestimulação do aluno. Por outro lado, quando o conhecimento tem uma função social, recupera-se o sentido do aprendizado. Por isso, seria importante que os alunos que produzirem conteúdos escritos, possam escrever sobre suas próprias experiências na participação do projeto, bem como informar a escola a respeito dos aspectos do atendimento dos demais grupos, como os alunos atendidos nas áreas de Matemática, Arte, habilidades cinestésico-corporais (em projeto externo), etc. A conclusão poderia ser combinada na forma de um jornal, nesse caso.

DIVULGAÇÃO

  No encerramento do projeto, caso os alunos trabalhem por agrupamentos por áreas afins, serão definidos os papéis de cada participante no que diz respeito à divulgação. Quem fará as entrevistas, as fotografias, a elaboração de textos opinativos, a postagem no Blog da escola, etc.

BIBLIOGRAFIA

BRASIL. Ministério da educação. Secretaria de Educação Especial. Marcos Político-Legais da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: Secretaria de Educação Especial, 2010.

BUDEL, Gislaine Coimbra; MEIER, Marcos. Mediação da aprendizagem na educação especial. Curitiba: Ibpex, 2012.

LOBO, Luiz. “Escola de Pais: para que seu filho cresça feliz”. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 1997.

PAPALIA, E. Diane; OLDS, Sally Wendkos; FELDMAN, Ruth Duskin.  Desenvolvimento humano. Artmed: Porto Alegre, 2006. 8 ed.