quinta-feira, 15 de março de 2018

A Importância da Oferta de Adequações Pedagógicas no Atendimento e Auxílio aos Educandos com Dificuldades Específicas de Aprendizagem




O Caso de Carlinhos (nome fictício)

Carlinhos é um dos muitos meninos que aos 11 anos encontra-se cursando o 6º ano do ensino fundamental. Quando a queixa de sua dificuldade de aprendizado é recebida, percebo que está bastante desanimado em relação aos estudos escolares. Em um momento de conversa informal, afirma que gostaria de deixar os estudos e começar a trabalhar. Isso ocorre não tanto por necessidades financeiras da família, mas sobretudo porque a escola parece não ter muito sentido para ele. Proponho, a seguir, uma síntese das observações obtidas ao longo dos atendimentos realizados.

Entrevista com a responsável

A genitora esteve na escola para conversar com o psicopedagogo a respeito das necessidades educacionais de C. Na ocasião, mencionou que o mesmo estava sendo atendido por neuropediatra desde o 4° ano escolar e que obteve a hipótese diagnóstica de dislexia, em decorrência do que o clínico sugeriu, na ocasião, que a responsável buscasse alternativas metodológicas para o trabalho pedagógico, como os métodos multissensoriais, a fim de oferecer melhores condições para o progresso de C. nos estudos escolares.
Em data posterior, a responsável compareceu novamente à escola, trazendo a devolutiva dos resultados da avaliação realizada pelo neuropediatra, constando ter sido diagnosticado com dislexia e déficit de atenção. Entre as ações do especialista, ocorreu o início do tratamento medicamentoso de C. em decorrência do déficit atencional. Além disso, foi sugerido pelo mesmo, à escola, a realização de adequações pedagógicas, como oferta de mais tempo para a realização das “provas” e também oferta de calendário e tabuada. Quanto à história da aprendizagem de C., foram feitas as seguintes observações. C. encontrou progressos significativos no período em que cursou o 4º e 5° anos escolares, tendo sido alfabetizado no decorrer de um trabalho realizado nesse momento por sua professora de sala comum das referidas séries. Posteriormente, ao seguir seus estudos em outra unidade escolar, teria apresentado comportamento “regredido”, conforme a entrevistada, em relação aos avanços pedagógicos evidenciados no período já referido. Nesse momento, a responsável manifestou preocupações quanto à importância da escola no sentido de contribuir para que C. seja capaz de desenvolver sua autoconfiança em sua capacidade de aprendizagem.
Outras questões surgidas durante a entrevista com a genitora e, em seguida, com o próprio educando, permitiram perceber outras áreas de desempenho em que C. mostra-se autoconfiante, tais como as que envolvem relacionamentos interpessoais, comunicação oral, desenho e atividades de robótica.

Observação dos Conhecimentos Escolares

Conhecimento da Lectoescrita. Sua leitura é fluente, com um pouco mais de dificuldade nas palavras menos comuns e com alguns erros que ele próprio corrige, pronunciando adequadamente em seguida. Sua escrita é rápida e os poucos erros que cometeu são de ordem ortográfica. Afirma ter dificuldade para escrever e pensar ao mesmo tempo. Ao reler o texto para o aluno, ele comentou que entende melhor quando ouve a leitura feita por outra pessoa.
Conhecimento matemático. Adição. Realiza operações de adição, fazendo cálculos mentais com unidades e dezenas. Nas centenas, utiliza recurso concreto (conta nos dedos). Subtração. Realizou adequadamente operações envolvendo unidades e dezenas. Em algumas situações chegou ao resultado incorreto, parecendo que isso decorreu de distração. Multiplicação. Foram propostos alguns problemas simples, para verificar se compreende o conceito. Exemplos: “Quantas patas tem 4 cachorros”..., respondeu, primeiramente, “20”. Depois corrigiu e escreveu “16”. As questões foram lidas pelo próprio educando, com autonomia. Divisão. Como no caso anterior, algumas atividades similares foram apresentadas, evidenciando alguns erros por distração e dificuldade para visualizar a problema proposto.

Aspectos atencionais. Durante os atendimentos realizados, distraiu-se várias vezes com os estímulos ambientais próximos.

Aspectos emocionais. A dificuldade de C. parece conter algo de emocional, pois apresenta melhor desempenho na escrita do ditado do que durante a leitura, pois neste último caso há a presença da insegurança, uma vez que não ocorre gagueira ao conversar. Pareceu estar desmotivado em relação aos estudos escolares. É importante não expor as dificuldades do educando diante dos demais.  

Relacionamentos. Algumas queixas relacionadas ao educando no presente ano letivo fizeram referência aos seus relacionamentos interpessoais. Quando compareceu à escola para tratar sobre esse assunto, a responsável disse que o filho já havia recebido atendimento psicológico. No entanto, C. relata que ainda é frequente a presença de algumas situações que poderiam necessitar de nova avaliação, como pesadelos, motivo pelo qual a oferta de novo encaminhamento para atendimento psicológico foi disponibilizado à responsável.

A Importância de Oferecer Adequações Pedagógicas

A solicitação para que realize leitura em voz alta diante dos colegas costuma gerar sentimento de ansiedade, motivo pelo qual acreditamos que essa prática deveria ser evitada neste momento. De acordo com o relato do educando, a sua dificuldade na disciplina de língua portuguesa parece estar mais no nível de compreensão da leitura de textos maiores e de produção textual. Como observou durante outro atendimento, não se sente capaz de pensar e passar para o texto ao mesmo tempo. Por isso, sente-se mais apto a realizar as tarefas envolvendo leitura e respostas escritas quando essas são precedidas da possibilidade de ouvir a leitura do texto em questão sendo realizada em voz alta pelo professor ou um colega da sala.
Na impressão do aluno, dentre as estratégias pedagógicas adotadas por seus educadores, uma explicação adicional tem sido o recurso que mais contribuiu para os avanços obtidos em seu aprendizado até o momento. Por isso, disse ter sido ajudado nas ocasiões em que pôde obter esse tipo de ajuda dos educadores ou de colegas, realizando atividades em dupla, por exemplo.
Além dessas questões, foi observado que C. frequentemente sente dificuldades para encontrar estratégias adequadas para resolver situações-problema. Seria vantajoso abordar as possibilidades de resolução de problemas com estratégias que favoreçam o ensino explícito de estratégias metacognitivas.

Conclusões. O presente caso evidencia a importância que a atenção individualizada, bem como a oferta de adequações, representa no sentido de resgatar a confiança do educando em suas potencialidades para o aprendizado, resultando na promoção de seus conhecimentos, por meio da ressignificação da atuação escolar. 
Entre as intervenções possíveis, a fim de auxiliar os educandos com dificuldades de aprendizagem escolar, poderíamos considerar ainda a importância dos projetos de desenvolvimento emocional baseados na comunicação com o lado direito do cérebro. Mas sobre esse aspecto, darei maiores detalhes no próxima postagem.