domingo, 28 de maio de 2017

Contribuições da Psicopedagogia à Oferta de Uma Educação Individualizada

Art. 54. É dever do estado assegurar à criança e ao adolescente:”

“V – Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um” (ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente).  

   
Considerando-se as premissas anteriores, expressas pelo artigo de Lei correspondente à Lei 8.069, de 13-7-1990, podemos concluir que o referido princípio se baseia em uma idéia de “equidade”, pois esta noção traz, entre seus significados, de acordo com o “Mini Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”, a definição: “2. Igualdade, equivalência (e. de direitos)”. Porém, conforme definição dada a seguir, também comporta a idéia de “diferenciação”.
A educação é um direito reservado a todos, embora a oferta educacional não devesse ser feita sem a consideração das especificidades do desenvolvimento do sujeito a quem se propõe educar. Isso porque, ainda que pertencentes a uma mesma faixa etária e turma, as crianças poderão apresentar particularidades em seu desenvolvimento, estando umas mais adiantadas, enquanto outras necessitarão de mais tempo para alcançar os estágios já atingidos por outros indivíduos da mesma turma.  
Disso decorre que o profissional de Psicopedagogia possui um papel importante quanto à garantia de direitos do público-alvo de sua ação, da mesma maneira que se lhe apresenta uma tarefa complexa, que se constituirá da relevância de sua atenção dedicada a cada criança de modo individual.
Nesse sentido, é apresentado o caso a seguir, como exemplo da importância de se observar as necessidades individuais dos aprendizes desde o período inicial de sua escolarização, pois a proposição de intervenções destinadas a complementar e/ou suplementar a educação poderá encontrar melhores resultados quando a identificação for feita nos períodos iniciais do desenvolvimento.    

    


Estudo de Caso

Dados Pessoais

Nome da Criança: Laura (fictício)

Data de Nascimento: 28\07\2013

Idade: 3 anos e 9 meses

Queixa Psicopedagógica: A criança demonstra grande facilidade para o aprendizado e interesse pelos estudos.

Anamnese Psicopedagógica

Em vista das características apresentadas pela criança em seu aprendizado, o que envolve o grande interesse pelos assuntos escolares, bem como a facilidade para aprender tudo o que lhe é ensinado, a genitora solicitou uma avaliação psicopedagógica das atuais condições de desenvolvimento de L.
Assim sendo, a responsável compareceu para a realização da entrevista, momento em que apresentou as seguintes informações. A mãe é profissional autônoma e o pai é funcionário público. L. é a filha mais nova do casal, irmã de dois meninos, um com sete e outro com 13 anos de idade. Ambos os genitores frequentam curso superior.  
Na história de desenvolvimento dos filhos, a entrevistada observou que todos apresentaram características diferenciadas quanto ao aprendizado, tanto escolar quanto informal. Isso foi exemplificado com o relato dos acontecimentos relacionados ao filho mais velho, que se destacou em concurso por bolsa de estudos no colégio onde estuda atualmente. Ambos os meninos vem apresentando histórico de facilidade para a obtenção dos conceitos escolares, o que se repete atualmente na escolarização de L. Outra característica diz respeito à autonomia apresentada pelas três crianças em relação às questões do aprendizado. Nesse momento, foram mencionadas as observações das pessoas que convivem no dia a dia com a L., no meio escolar e extraescolar, de que a criança vem apresentando excelente memória e rapidez no aprendizado. Conforme a genitora expressou: “ela aprende rápido e retém tudo o que é ensinado”.
Uma das professoras atuais de L. observou, em conversa com a genitora, que a criança demonstra facilidade para a aprendizagem dos vocabulários de língua estrangeira, superando as expectativas pedagógicas para o momento, de acordo com as metas estabelecidas para a faixa etária em que a criança se encontra. Outra característica observada no perfil de desenvolvimento da criança diz respeito às iniciativas de liderança entre seus pares. Quanto ao interesse pelos estudos, L. se destaca ainda mais, em relação ao que a responsável observou na história escolar dos dois primeiros filhos, decorrendo disso a preocupação dos genitores no sentido de que a criança receba estímulos desafiadores ao seu estágio de desenvolvimento atual. Também foi observado que a criança demonstra uma atitude muito observadora em relação às situações do dia a dia e responsabilidade com suas obrigações, acima do que é esperado para a sua idade. Nesse sentido, apresenta autonomia e iniciativa para a realização das tarefas escolares feitas no espaço do lar.
No meio familiar, procura-se oferecer um ambiente estimulador, o que contribui para as condições de desenvolvimento da criança. L. evidencia interesse por desenhos, pinturas e livros contendo assuntos próprios para a sua idade, apreciando muito as histórias que a genitora conta para ela antes da hora de dormir. Nas demais características de seu desenvolvimento, mostra-se uma criança feliz e apresenta boas condições de saúde.

Atendimento à Criança

Durante atendimento psicopedagógico, foram oferecidas várias atividades, a fim de verificar o grau de dificuldade com que a criança as realizaria. Para isso, nos baseamos nas características de desenvolvimento, conforme expostas por De Lamare (1992) e Smith (2007), assim como por Maureen (2007) e Mèredieu (2006), sendo que estas duas últimas autoras estudaram as características apresentadas pelo grafismo de crianças de diferentes idades.
Durante o período de observação psicopedagógica, L. demonstrou capacidade para perceber e nomear as formas geométricas básicas. No que diz respeito à reprodução das mesmas, apresentou as dificuldades próprias de sua fase de desenvolvimento, quando a percepção já evoluiu, porém o controle motor fino ainda encontra-se em construção. A forma de seus desenhos encontra-se na fase da figura-girino (membros saindo da cabeça), evoluindo, em outras situações, para a figura humana com tronco. O predomínio de formas circulares se deve às características do próprio processo de desenvolvimento (Mèredieu, 2006, p. 20 e 28). Nos desenhos que elaborou, o boneco-girino se reveza com o boneco-estrada, sendo o último a própria manifestação da evolução do boneco-girino de dois membros (op. cit. p. 33), como forma de conflito própria da evolução cognitiva, procedendo por momentos de avanços e retrocessos.   
Quando se observam os detalhes do grafismo, a figura humana se apresenta pouco acima das expectativas estabelecidas para o quarto ano de vida, quando se espera entre quatro e sete detalhes (De Lamare, 1992). Nesse sentido, a criança incluiu oito detalhes na elaboração da figura humana (cabeça, olhos, nariz, boca, orelhas, tronco, pernas e braços). Esse fato seria indicador de que a criança apresenta boa capacidade de observação, em conformidade com as impressões relatadas pela genitora durante a entrevista.
Dentro da evolução da capacidade de organizar, foi capaz de dispor cinco objetos de tamanhos diferentes, de acordo o comprimento crescente. Quanto à comunicação, a criança mostra-se bem comunicativa, expressando-se sobre os assuntos de sua vida escolar e extraescolar. Nas tarefas motrizes, realizou as atividades propostas, quanto aos movimentos motores amplos, de salto, equilíbrio e atividade proprioceptiva esperadas para o quarto ano de vida, conforme os marcos do desenvolvimento propostos por De Lamare (1992) para essa faixa etária. Apresentou o conhecimento das cores primárias e algumas das secundárias, reconhecendo oito cores ao total.       
Em relação aos conhecimentos escolares, contou os objetos apresentados corretamente até 20. Conseguiu identificar e nomear quase todas as letras do alfabeto. Não nomeou as letras “K”, “Q”, “W”, “Y” e “Z”.

Sobre a Aprendizagem Significativa

A fim de contribuir com as melhores condições ofertadas a cada criança, seria útil considerar o conceito de “aprendizagem significativa”, o qual constitui um assunto tão relevante para o desenvolvimento individual, que vem sendo retomado por vários autores desde que foi originalmente apresentado pelos pesquisadores Ausubel, Novak e Hanesian (1980, p. 34).
A respeito disso, Budel & Meier (2012, p. 147), ao abordarem sobre os diversos tipos de mediação, mencionam o conceito de “mediação do significado”, afirmando que:

“um conceito é significativo quando se interliga a outros já aprendidos pelo sujeito” (Ausubel; Novak; Hanesian, 1980). Por exemplo, ao ouvirmos uma palavra conhecida somos capazes de realizar várias lembranças, o que não ocorre quando a palavra é desconhecida. ““Enriquecer” o significado de um conceito é ampliar suas possibilidades de uso ou relacioná-lo ao maior número possível de outros conceitos”.

Isso significa que, se deixada dentro de um contexto que não proponha novos desafios, não levando em conta os estágios já alcançados nos conhecimentos, o avanço da criança no aprendizado escolar correria o risco de ficar estagnado. Como a avaliação demonstrou que a criança já atingiu metas de desenvolvimento esperadas para o quarto ano de vida, e como os relatos da genitora sobre a aprendizagem da criança concordam com o que foi observado durante o atendimento, seria importante, para os progressos posteriores da criança, considerar com atenção a possibilidade de ajudá-la a atingir as condições de aprendizagem significativa, por meio da oferta de estímulos adicionais àqueles ofertados em sua escolarização neste momento.

Considerações Finais

Levar em conta os aspectos globais do desenvolvimento infantil possibilita ao psicopedagogo contribuir, enquanto profissional de ajuda, na garantia da defesa de direitos da criança, inclusive para articular ações visando adequar as estratégias de ensino às características próprias do desenvolvimento de cada criança. A necessidade de um olhar precoce se justifica em decorrência da relevância dos anos iniciais da vida para o desenvolvimento posterior saudável do sujeito. Quando os aspectos identificados ultrapassam o campo de atuação do próprio profissional de Psicopedagogia, a identificação das necessidades existentes poderá ser o início de outras ações necessárias, como encaminhamentos para profissionais de outras especialidades. No presente caso, a conclusão evidenciou ser necessária a articulação do trabalho psicopedagógico com o pedagógico, sugerindo estimulação suplementar para atender as necessidades atuais relativas ao desenvolvimento da criança. Nesse sentido, a Psicopedagogia pode trazer contribuições destinadas à reflexão sobre a importância de se pensar em ações para a promoção de um ensino baseado na necessidade da oferta de educação individualizada.  

     
Bibliografia

AUSUBEL, David P.; NOVAK, Joseph D.; HANESIAN, Helen. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro: Editora Interamericana, 1980.
BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente: (Lei n. 8069, de 13-7-1990). São Paulo: Saraiva, 2005.
BUDEL, Gislaine Coimbra; MEIER, Marcos. Mediação da aprendizagem na educação especial. Curitiba: Ibpex, 2012.
COX, Maureen. Desenho da criança. São Paulo: Martins Fontes, 2007
DE LAMARE. A vida de nossos filhos de 2 a 16 anos. Rio de Janeiro: Bloch Ed., 1992. 15 ed.
HOUAISS, Antônio. Minidicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.
MÈREDIEU, Florence de. O desenho infantil. São Paulo: Cultrix, 2006.

Smith, Corinne. Dificuldades de aprendizagem de A a Z : um guia completo para pais e educadores. Porto Alegre: Artmed, 2007.

terça-feira, 9 de maio de 2017

“Valores: Os Verdadeiros Pilares da Convivência”



Palestra Para Os Pais

“Minha receita de felicidade é construir uma família bem alicerçada no amor, na verdade e na sinceridade. Não há terremoto que derrube a muralha do amor de uma família com esses alicerces. O resto é resto” (Barros, 2002, p. 50).


Como o nome diz, os valores dizem respeito àquelas atitudes que valorizamos e que, portanto, desejamos estabelecer como base de nossa convivência.

Valores Necessários ao bom Relacionamento Familiar:

Como anda o diálogo na família?

Dialogar é um exemplo de atitude que ajuda as crianças a desenvolver bons valores de convivência. 

Em relações equilibradas, existe respeito

“O respeito é a parede que separa o direito dos deveres” (Barros, 2002, p. 50).
Assim, ajude a criança a compreender a importância do respeito para os relacionamentos. Crianças muito novas podem não compreender a reciprocidade das relações humanas. Um bom modelo de relacionamento e disposição para dialogar pode ajudar a criança a compreender a importância do respeito, seus direitos e deveres.  
 

Transmitir alegria é transmitir segurança

Você não precisa dizer que está feliz ao lado de uma criança. Alguns estudos mostram que a linguagem corporal, que transmitimos inconscientemente, durante os relacionamentos sociais, representa uma parte significativa de nossa comunicação. Portanto, que tal reservar um momento para que você e seu (sua) filho (a) realizem uma atividade prazerosa juntos?  

Promover a paz é transmitir segurança

Não permita que a violência entre em sua casa. Todo tipo de violência, seja verbal ou física, distancia as pessoas. A aproximação, ou o fortalecimento de vínculos, depende da habilidade para conversar e da disposição para orientar em relação ao que se espera que as crianças façam.  

Fortalecer os laços afetivos

Tenho observado que ansiedades intensas podem ser sintoma da falta de diálogo entre pais e filhos. Então, por que deixar as coisas chegarem a esse ponto, quando um pouco de atenção e diálogo poderia evitar que isso acontecesse? 

Amor: o ingrediente indispensável ao desenvolvimento da criança

Quando a criança se sente amada, encontra condições favoráveis ao desenvolvimento de sua inteligência, pois:

“Quanto mais a criança é estimulada com afeto, nos primeiros anos de vida, maior a sua capacidade de aprendizado e de desenvolver a inteligência” (Lobo, 1997, p. 558). 

Evidência científica sobre a influência da afetividade no desenvolvimento cognitivo

Lobo (1997, p. 573) aponta evidências de que o “carinho físico” e condições ambientais favoráveis são capazes de favorecer o aumento da inteligência. Nesse sentido, oferece um exemplo. Uma criança que tinha mãe e avó com uma medida de QI (Quociente de Inteligência) de 40, ao receber os estímulos necessários, apresentou, na vida adulta, uma medida de 120 nesse teste.
Dessa experiência, se pode concluir que a potencialidade humana não se desenvolve em condições desfavoráveis da mesma maneira que se desenvolveria em um ambiente que transmite afeto, segurança, limites e estímulos variados. Portanto, podemos concluir que as condições familiares podem trazer grandes contribuições ao desenvolvimento e à aprendizagem das crianças.
Quanto mais a família e a escola se unirem com o objetivo de promover as condições necessárias ao desenvolvimento da criança, melhores serão os resultados alcançados. O que fizermos no presente, trará consequências para a vida toda.
Então, o desafio está lançado. Vamos trabalhar juntos?

Bibliografia

BARROS, Gilberto. Você já abraçou seu filho hoje? São Paulo: Editora Gente, 2002.
LOBO, Luiz. Escola de pais: para que seu filho cresça feliz. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 1997.