sexta-feira, 2 de novembro de 2018

A Atuação Psicopedagógica e a Humanização das Relações na Instituição Escolar


Ao pensar sobre a temática da humanização dentro das instituições escolares, vem à memória muitos casos atendidos durante o percurso realizado até aqui. Entre esses casos, é possível mencionar o de um aluno do 9º ano do ensino fundamental, encaminhado porque ultimamente vinha apresentando baixo desempenho escolar. Durante um atendimento, Pedro (nome fictício) menciona que agora se tornava difícil ter motivação para realizar as tarefas para casa, porque esse momento, anteriormente, tinha um significado especial, pois era o genitor que o ajudava a realizar as tarefas para casa. Depois da morte deste, fazê-las sempre o levava a recordar-se dessa falta. Infelizmente, para Pedro, estudar passou a ser algo que se relacionava com a ideia de “perda”. Na queixa do educando, ficava evidente uma ruptura afetiva existente na relação de ensino e aprendizagem desde então. Penso que a “falta” trazia reflexos para a transferência existente na relação entre ensinante e aprendente, pois o ato de aprender estava, anteriormente, relacionado a uma situação em que o afeto estava presente. Pareceu-me muito interessante a ideia de que ensinar seja um ato que necessite ser autorizado por aquele que aprende. Neste caso, o fora em relação a alguém com especial vinculação afetiva para o educando. Portanto, quanto mais os professores fossem capazes de assumir atribuições de apoiadores, incentivadores, melhores condições teriam de resgatar o desejo de aprender, que Pedro demonstrava nos anos anteriores. As necessidades de Pedro foram discutidas com seus educadores. Atualmente, seu aproveitamento nos estudos voltou a ser positivo.  
Lembrar de casos como o anterior me remete a outras situações em que o suporte emocional se faz necessário para estabelecer uma adequada condição de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, é comum que muitos alunos com bom potencial para aprender se queixem de ter “brancos”, ou seja, lapsos de memória, em situações como avaliações. Nesse caso, o trabalho de “desmistificar” a função da avaliação costuma trazer resultados positivos. Para isso, novamente será necessário que o educador possua a presença de qualidades como a empatia, para ser capaz de encorajar seus alunos. Com isso em mente, é possível imaginar que a instituição consiga se humanizar.  
Outra situação me vem à mente. Marcos (nome fictício) frequentava o 6º ano do ensino fundamental. Durante o seu atendimento, propus atividades de leitura e interpretação de textos, para começar a compreender quais as demandas do educando em relação à aprendizagem. Percebi que Marcos, embora realizasse uma leitura fluente, encontrava dificuldades para a compreensão textual. Isso ocorria, em parte devido às condições de seu vocabulário, mas também pela presença de questões atencionais e pouca oferta de oportunidades de aprendizagem adequadas as suas necessidades.
Após ler para o educando a narrativa O Lobo e o Cordeiro, para verificar se havia compreendido a posição dos personagens na história, foi perguntado sobre qual dos dois estava mais acima, em relação ao curso do rio, o que o deixou confuso. Não entendia o significado de expressões como “turvar a água”. De modo semelhante, não soube definir o significado de “pérola”, na fábula O Galo e a Pérola. Perguntei: “qual foi a atitude do galo ao encontrar a pérola?” Ele respondeu: “ficou alegre?”. Outras perguntas, cujas respostas poderiam ser obtidas com facilidade, apenas permanecendo atento às informações explícitas no texto durante a leitura, o fizeram pensar por um bom tempo antes de tentar responder. Após uma terceira leitura, perguntei: “O que o galo poderia ter feito ao encontrar a pérola?” Ele respondeu: “poderia ter vendido para o joalheiro”. Nesta última questão apresentada, pareceu começar a compreender a ideia proposta na fábula, que era a incompreensão, por parte do galo, do valor que a pérola encontrada possuía. Na quarta leitura, ao ser solicitado que ficasse atento à atitude do galo, percebeu que “o galo não ficou alegre”.
Apesar das dificuldades demonstradas, Marcos poderá ampliar seus conhecimentos, com um planejamento do ensino adequado ao seu conhecimento atual. A ausência de atendimento dessas necessidades poderia estar ocasionando outras consequências para o seu desenvolvimento. Por exemplo, essas dificuldades para cumprir a tarefa solicitada com competência estavam produzindo dificuldade para que acreditasse em seu potencial, possibilitando o surgimento de obstáculo epistemofílico. Assim, o atendimento de suas necessidades exigiria algumas mudanças nas condições de ensino e aprendizagem. 

Adequações Propostas

Quanto às ações estritamente escolares, pareceu ser vantajoso realizar algumas adequações pedagógicas para ajudar o educando em seus progressos nos estudos. Algumas sugestões feitas foram:
1)    Ao trabalhar um texto, verificar o que o educando já conhece sobre o assunto e os pontos que necessitem ser melhor esclarecidos.
2)     Tarefas extensas poderiam ser divididas, evitando excesso de informações.
3)    Oferta de mais tempo ao educando, para que possa pensar sobre o texto lido antes de passar para a atividade escrita.
4)    Oportunizar uma segunda, ou terceira leitura, caso seja necessária, para que possa assimilar melhor as informações e passar para as demais atividades com maior segurança.
5)    A consulta de um dicionário de língua portuguesa pode contribuir para a melhora da compreensão, pela ampliação vocabular, favorecendo a melhora das condições apresentadas pelo aluno neste momento.
6)    A mediação no processo de aprender e a oferta de encorajamento é essencial aos seus progressos.

Após acompanhar esse caso e discuti-lo com a coordenadora pedagógica e os professores, perguntei à coordenadora se havia ocorrido alguma dificuldade por parte da equipe para promover as adequações necessárias para auxiliar o educando, a fim de verificar se era necessário contribuir com mais algum tipo de ajuda. O que ela respondeu foi: “Depois que os professores entendem a natureza da dificuldade do aluno, se mostram abertos para realizar as adequações necessárias para ajudá-lo”.

Considerações Finais

Pensar sobre o tema da humanização geralmente nos remete a considerações a respeito da necessidade de aumentar a ocorrência de recursos como a afetividade e a empatia nas relações interpessoais. Porém, ao pensarmos sobre as implicações desse assunto dentro das instituições educacionais, podemos perceber que a humanização vai além de uma mudança unicamente relacionada às características afetivas presentes nas relações humanas. Assim, muitas vezes, situações podem surgir, exigindo a mudança do olhar dos profissionais em relação à especificidade das condições apresentadas pelo educando, fazendo necessária a presença de ações diferenciadas para resgatar o desejo de aprender.  Portanto, humanização envolveria tanto a presença dos aspectos afetivos quanto técnicos.
No trabalho de promoção de um ambiente institucional humanizado, a meu ver, o profissional de Psicopedagogia ocuparia a posição de mediador, posicionando-se entre o educando e o educador, entre o educador e o coordenador pedagógico, entre os responsáveis e o educando, etc. Ao cumprir esses papeis, favoreceria a promoção de uma atitude equilibrada, dentro da instituição, dos recursos humanos, tanto afetivos quanto técnicos, para contribuir com a superação dos entraves surgidos nas relações de ensino e aprendizagem.
Assim, o trabalho de mediação oferecido pelo profissional de Psicopedagogia, atuando em parceria com professores, coordenadores, famílias e profissionais da rede de apoio torna possível aos educadores visualizar novas possibilidades pedagógicas. Essa mediação favorece a existência da humanização no ambiente institucional, pelo fato de que, ao se construir numa relação dialógica com os diversos envolvidos nesse trabalho, aponta para caminhos e possibilidades do fazer educacional, em que se torna possível favorecer o crescimento integral dos educandos. 

sábado, 14 de julho de 2018

Algumas Questões Recorrentes de Entrevista em Minha Atuação em Psicopedagogia Institucional


Acredito que nenhum instrumento substitui a experiência que vem com a prática. Encaro-os como aspectos complementares. Talvez seja possível pensar no trabalho constituído de instrumentos padronizados mais a experiência profissional como um momento em que o profissional articula os dois hemisférios cerebrais, unindo intuição e lógica. A repetição de alguns instrumentos permite perceber regularidades e possibilidades, enquanto a experiência nos ajuda a perceber as singularidades de cada situação. Assim, dois casos aparentemente iguais poderão, ao final, gerar intervenções distintas.  
Em relação aos dados obtidos, conforme cada instrumento utilizado, podemos ter uma posição mais interpretativa, enquanto que em outros uma visão mais objetiva dos mesmos. No caso do questionário a seguir, está em questão a aplicação de um instrumento incluído no último caso, que é destinado à obtenção de informações que terão em vista uma abordagem mais voltada para a orientação e acompanhamento individualizados. É um modelo provisório, ou de base, pois durante a entrevista, conforme seja necessário, podem ser inseridas outras questões.   
As respostas obtidas são complementares às informações levantadas em outros momentos, como durante a anamnese realizada com os responsáveis. Além da anamnese e das questões a seguir, acredito que uma boa entrevista diretamente com os educadores contribui para termos uma visão geral da situação. Penso que isso seja importante, pois, conforme vamos compreendendo o sujeito, dentro de uma observação mais global, vamos entendendo melhor as possíveis causas de suas dificuldades e delineando as formas de intervenção para resolver ou minimizar os obstáculos do aprender.
Caso o educando já seja capaz de responder as questões por si mesmo, endereço-as a ele. Quando isso não for possível, os responsáveis poderão ser ouvidos. Embora as questões sejam apresentadas a seguir em forma de questionário, eu nunca as utilizo dessa forma. Antes, procuro inseri-las de modo mais natural na conversa, pois de acordo com o que acredito, o rapport, ou seja, a empatia ou sintonia, é um conceito totalmente relevante durante as entrevistas, uma vez que a confiança do sujeito que aprende pode contribuir para minimizar suas atitudes defensivas, as quais poderiam surgir, no caso de ocorrência de vínculo insatisfatório.

Nome: 
Sala:
Data:

1)    Gostaria que você fizesse uma autocrítica sobre os aspectos escolares, dizendo aqueles em que acha que pode melhorar.

2)    Tem horário definido para realizar as lições de casa?

3)    Ficou abaixo da média em alguma disciplina no bimestre?

4)    Frequenta projetos no contraturno?

5)    Neste momento, há alguma coisa que o preocupe?

6)    Tem metas para o futuro?

7)    Encontra dificuldades especiais em alguma disciplina escolar?

8)    Tem hábito de leitura?

9)    O que pensa sobre a escola?

10)  Como procura sanar as dúvidas sobre os conteúdos escolares?

11)  A convivência em sala é adequada ou insatisfatória? Caso seja insatisfatória, quais são os principais problemas?

12)  Como estão sua saúde, sono, alimentação?


terça-feira, 10 de abril de 2018

A Participação de Estagiários de Cursos Superiores na Instituição Escolar e Suas Contribuições para o Desenvolvimento Integral dos Educandos

O projeto apresentado a seguir não foi desenvolvido até o momento, mas desejei compartilhá-lo como uma ideia para projetos futuros, com o objetivo de ilustrar o que acredito que poderá ser uma das frentes de ação do trabalho do profissional de Psicopedagogia na instituição, como coordenador de projetos. Isso porque a experiência institucional acumulada poderá contribuir para que o psicopedagogo elabore estratégias de ações para contornar as dificuldades existentes em relação à oferta de uma educação de qualidade, de modo a contribuir para o planejamento e execução de projetos que tenham em vista a instituição em sua singularidade. 



1.Título
A Participação de Estagiários de Cursos Superiores na Instituição Escolar e Suas Contribuições para o Desenvolvimento Integral dos Educandos.  

2.Objetivo Geral
Oferecer serviços complementares e/ou suplementares ao desenvolvimento integral dos educandos.
3.Objetivos Específicos
Desenvolver, no dia a dia escolar, ações que promovam a valorização da convivência coletiva harmoniosa, a responsabilidade e o autocuidado.

4.Palavras-Chave
Educação integral, serviços de apoio, parceria, estagiários.

4. Justificativa
Os profissionais que atuam no quadro docente da instituição escolar, assim como o profissional de Psicopedagogia, em certas ocasiões, identificam necessidades dos educandos que extrapolam os seus campos de conhecimentos e competências profissionais. Nessas condições, educadores e psicopedagogos podem sentir que o entrave existente ao atendimento de tais necessidades de seus alunos só poderá ser superado por meio de encaminhamentos para outras especialidades. Como exemplo dessa demanda, podem ser citados os casos dos alunos que poderiam ser beneficiados por meio de orientações provenientes de campos de atuação como a Odontologia, a Psicologia e a Fisioterapia.
Nesses casos, a parceria entre a instituição escolar e os órgãos externos que auxiliarão na realização do diagnóstico do caso pode ser dificultada por conta de outros fatores, como a fila de espera existente no serviço para o qual o educando foi encaminhado, o que geralmente repercute na qualidade do atendimento oferecido.
Por outro lado, a existência de cursos superiores no próprio município seria um fator favorável à identificação de recursos humanos que poderiam proporcionar contribuições nesse sentido, pela possibilidade de estabelecer parcerias com as unidades escolares, propondo ações capazes de favorecer o atendimento ao educando, proporcionando contribuições positivas ao atendimento da demanda identificada nas instituições.
Assim, juntamente com um diagnóstico adequado das necessidades institucionais realizada pelo profissional de Psicopedagogia, a atuação dos estagiários poderia favorecer a implementação de ações positivas, quanto ao atendimento das necessidades identificadas junto ao corpo discente, com ações de orientação de educandos em pequenos grupos. Essa linha de atuação poderia auxiliar na redução da fila de espera existente nos serviços públicos da área da saúde. No caso da instituição, também poderia favorecer a redução da ansiedade existente em relação a que se inicie o atendimento psicológico dos educandos encaminhados, bem como a melhora no clima institucional, em decorrência da realização de ações tendo em vista a resolução de conflitos de convivência entre os educandos.  

5. Introdução
O desenvolvimento integral do educando constitui um tema bastante antigo, cujo interesse remonta ao filósofo grego Aristóteles, de acordo com Gadotti (2009, p. 21). No Brasil esse assunto vem sendo retomado desde o movimento educacional pelos pioneiros da educação nova, de 1932 (op. cit., p. 22). Iniciativas como o projeto das Escolas Parque, de Anísio Teixeira, na década de 1950, seguem essa linha (op. cit., p. 23). Posteriormente, a criação dos CIEPS (Centros Integrados de Educação Pública), durante a primeira gestão de Leonel Brizola (1983-1987) como governador do Rio de Janeiro, incluiu a prestação de serviços médicos e odontológicos aos alunos nas dependências escolares (op. cit., pp. 24-25). 
Marcos legais importantes sobre a infância e a adolescência, como o que se observa no Art. 1º da Lei 9394, de 20-12-1996, trouxeram uma compreensão da educação como um processo que transcende o espaço físico da instituição escolar, uma vez que:  
“A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”.
Dessa maneira, a instituição escolar tem procurado compreender o desenvolvimento do educando dentro de uma perspectiva global. Nesse sentido, a tarefa da escola poderia ser executada de modo mais satisfatório pela articulação com outros especialistas, que poderão contribuir com os demais serviços relacionados à oferta de ações que concretizem esses direitos fundamentais.
A articulação da vida escolar com os recursos comunitários tem sido um tema de interesse atual, com algumas iniciativas cujos resultados são considerados satisfatórios, como ocorreu com o jovem município de Ariquemes (R0), que contribuiu para o desenvolvimento profissional dos jovens que participaram de projetos como voluntários, assim como o Programa Bairro Escola de Nova Iguaçu, que contou com a participação de voluntários entre estudantes de ensino médio e superior, ação que potencializou o uso dos recursos que já existem naquela comunidade (Gadotti, 2009, p. 68-71).
Dessa maneira, acreditamos que a inserção de estagiários na vida escolar poderia resultar em uma prática capaz de agregar ao cotidiano escolar esforços importantes para a promoção integral do desenvolvimento educacional dos alunos das escolas públicas  municipais, favorecendo a execução de ações para a promoção dos cuidados físicos e emocionais dos educandos.

6.Metodologia
A metodologia da pesquisa-ação constitui uma abordagem metodológica adequada ao projeto aqui proposto, pois de acordo com Severino (2007, p. 120):

“A pesquisa-ação é aquela que, além de compreender, visa intervir na situação, com vistas a modificá-la. O conhecimento visado articula-se a uma finalidade intencional de alteração da situação pesquisada. Assim, ao mesmo tempo que realiza um diagnóstico e a análise de uma determinada situação, a pesquisa-ação propõe ao conjunto de sujeitos envolvidos mudanças que levem a um aprimoramento das práticas analisadas”.

Seguindo a abordagem definida anteriormente, o presente projeto realizará as ações descritas adiante. A partir de entrevistas com a equipe gestora e profissionais do quadro docente, o profissional de Psicopedagogia realiza um levantamento de temas mais relevantes e que necessitam ser desenvolvidos junto ao alunado. Esses temas poderão ser considerados de acordo com a área dos estudos superiores dos estagiários. Após ter sido realizado o levantamento das necessidades existentes, o profissional de Psicopedagogia da instituição poderia discutir as ações possíveis, juntamente com o estagiário, bem como o melhor momento para a realização e o número de intervenções, de acordo com as necessidades dos professores de sala comum, do educando e do próprio estagiário. À medida que o projeto for se desenvolvendo, será possível realizar as adequações que possam ser necessárias, como triagem, formação de grupos e dispensa de alunos que já tenham atingido os objetivos dos encontros.

7. Atividades
Após o levantamento escolar e a formação dos grupos:
Os estagiários da área da Psicologia poderão desenvolver ações em pequenos grupos, com reflexões sobre temas sugeridos pelos professores das turmas participantes, tais como reflexões sobre autoestima, convivência com as diferenças, autocuidado, resiliência, entre outros.
Os estagiários da área da Pedagogia poderão desenvolver ações em pequenos grupos ou em sala de aula, discutindo estratégias sobre a importância da formação de hábito de estudos, estratégias para melhor aproveitamento dos estudos, o desenvolvimento do hábito de leitura, etc.
Os estagiários da área da Odontologia poderão desenvolver ações em pequenos grupos ou em sala de aula, informando sobre a importância dos cuidados bucais e o modo adequado de realizá-los, além de triagens relacionadas às condições bucais e sugestão de encaminhamentos, quando necessários.

8. Acompanhamento, Avaliação e Disseminação
O acompanhamento dos alunos poderá ser realizado pelo professor de sala comum ao profissional de Psicopedagogia, que poderá realizar a triagem dos casos de acordo com as queixas recebidas. Quanto aos grupos formados, poderá registrar os aspectos quantitativos e qualitativos das ações desenvolvidas pelos estagiários, discutindo com os mesmos as adequações possíveis.

9. Finalização
O projeto será concluído pela elaboração um relatório final, após discussão realizada com os integrantes do projeto, a fim de registrar os avanços obtidos no atendimento à clientela escolar e os resultados observados, para a análise e adequações posteriores.  

10. Bibliografia
Brasil. [Lei Darcy Ribeiro (1996)]. LDB : Lei de diretrizes e bases da educação nacional : Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. – 13. ed. – Brasília : Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2016. – (Série legislação ; n. 263 PDF)
Brasil. Estatuto da Criança e do Adolescente: (Lei n. 8069, de 13-7-1990). São Paulo: Saraiva, 2005. 
GADOTTI, Moacir. Educação Integral no Brasil: inovações em processo / Moacir Gadotti. -- São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2009. -- (Educação Cidadã; 4)
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: cortez, 2007. 23 ed.

quinta-feira, 15 de março de 2018

A Importância da Oferta de Adequações Pedagógicas no Atendimento e Auxílio aos Educandos com Dificuldades Específicas de Aprendizagem




O Caso de Carlinhos (nome fictício)

Carlinhos é um dos muitos meninos que aos 11 anos encontra-se cursando o 6º ano do ensino fundamental. Quando a queixa de sua dificuldade de aprendizado é recebida, percebo que está bastante desanimado em relação aos estudos escolares. Em um momento de conversa informal, afirma que gostaria de deixar os estudos e começar a trabalhar. Isso ocorre não tanto por necessidades financeiras da família, mas sobretudo porque a escola parece não ter muito sentido para ele. Proponho, a seguir, uma síntese das observações obtidas ao longo dos atendimentos realizados.

Entrevista com a responsável

A genitora esteve na escola para conversar com o psicopedagogo a respeito das necessidades educacionais de C. Na ocasião, mencionou que o mesmo estava sendo atendido por neuropediatra desde o 4° ano escolar e que obteve a hipótese diagnóstica de dislexia, em decorrência do que o clínico sugeriu, na ocasião, que a responsável buscasse alternativas metodológicas para o trabalho pedagógico, como os métodos multissensoriais, a fim de oferecer melhores condições para o progresso de C. nos estudos escolares.
Em data posterior, a responsável compareceu novamente à escola, trazendo a devolutiva dos resultados da avaliação realizada pelo neuropediatra, constando ter sido diagnosticado com dislexia e déficit de atenção. Entre as ações do especialista, ocorreu o início do tratamento medicamentoso de C. em decorrência do déficit atencional. Além disso, foi sugerido pelo mesmo, à escola, a realização de adequações pedagógicas, como oferta de mais tempo para a realização das “provas” e também oferta de calendário e tabuada. Quanto à história da aprendizagem de C., foram feitas as seguintes observações. C. encontrou progressos significativos no período em que cursou o 4º e 5° anos escolares, tendo sido alfabetizado no decorrer de um trabalho realizado nesse momento por sua professora de sala comum das referidas séries. Posteriormente, ao seguir seus estudos em outra unidade escolar, teria apresentado comportamento “regredido”, conforme a entrevistada, em relação aos avanços pedagógicos evidenciados no período já referido. Nesse momento, a responsável manifestou preocupações quanto à importância da escola no sentido de contribuir para que C. seja capaz de desenvolver sua autoconfiança em sua capacidade de aprendizagem.
Outras questões surgidas durante a entrevista com a genitora e, em seguida, com o próprio educando, permitiram perceber outras áreas de desempenho em que C. mostra-se autoconfiante, tais como as que envolvem relacionamentos interpessoais, comunicação oral, desenho e atividades de robótica.

Observação dos Conhecimentos Escolares

Conhecimento da Lectoescrita. Sua leitura é fluente, com um pouco mais de dificuldade nas palavras menos comuns e com alguns erros que ele próprio corrige, pronunciando adequadamente em seguida. Sua escrita é rápida e os poucos erros que cometeu são de ordem ortográfica. Afirma ter dificuldade para escrever e pensar ao mesmo tempo. Ao reler o texto para o aluno, ele comentou que entende melhor quando ouve a leitura feita por outra pessoa.
Conhecimento matemático. Adição. Realiza operações de adição, fazendo cálculos mentais com unidades e dezenas. Nas centenas, utiliza recurso concreto (conta nos dedos). Subtração. Realizou adequadamente operações envolvendo unidades e dezenas. Em algumas situações chegou ao resultado incorreto, parecendo que isso decorreu de distração. Multiplicação. Foram propostos alguns problemas simples, para verificar se compreende o conceito. Exemplos: “Quantas patas tem 4 cachorros”..., respondeu, primeiramente, “20”. Depois corrigiu e escreveu “16”. As questões foram lidas pelo próprio educando, com autonomia. Divisão. Como no caso anterior, algumas atividades similares foram apresentadas, evidenciando alguns erros por distração e dificuldade para visualizar a problema proposto.

Aspectos atencionais. Durante os atendimentos realizados, distraiu-se várias vezes com os estímulos ambientais próximos.

Aspectos emocionais. A dificuldade de C. parece conter algo de emocional, pois apresenta melhor desempenho na escrita do ditado do que durante a leitura, pois neste último caso há a presença da insegurança, uma vez que não ocorre gagueira ao conversar. Pareceu estar desmotivado em relação aos estudos escolares. É importante não expor as dificuldades do educando diante dos demais.  

Relacionamentos. Algumas queixas relacionadas ao educando no presente ano letivo fizeram referência aos seus relacionamentos interpessoais. Quando compareceu à escola para tratar sobre esse assunto, a responsável disse que o filho já havia recebido atendimento psicológico. No entanto, C. relata que ainda é frequente a presença de algumas situações que poderiam necessitar de nova avaliação, como pesadelos, motivo pelo qual a oferta de novo encaminhamento para atendimento psicológico foi disponibilizado à responsável.

A Importância de Oferecer Adequações Pedagógicas

A solicitação para que realize leitura em voz alta diante dos colegas costuma gerar sentimento de ansiedade, motivo pelo qual acreditamos que essa prática deveria ser evitada neste momento. De acordo com o relato do educando, a sua dificuldade na disciplina de língua portuguesa parece estar mais no nível de compreensão da leitura de textos maiores e de produção textual. Como observou durante outro atendimento, não se sente capaz de pensar e passar para o texto ao mesmo tempo. Por isso, sente-se mais apto a realizar as tarefas envolvendo leitura e respostas escritas quando essas são precedidas da possibilidade de ouvir a leitura do texto em questão sendo realizada em voz alta pelo professor ou um colega da sala.
Na impressão do aluno, dentre as estratégias pedagógicas adotadas por seus educadores, uma explicação adicional tem sido o recurso que mais contribuiu para os avanços obtidos em seu aprendizado até o momento. Por isso, disse ter sido ajudado nas ocasiões em que pôde obter esse tipo de ajuda dos educadores ou de colegas, realizando atividades em dupla, por exemplo.
Além dessas questões, foi observado que C. frequentemente sente dificuldades para encontrar estratégias adequadas para resolver situações-problema. Seria vantajoso abordar as possibilidades de resolução de problemas com estratégias que favoreçam o ensino explícito de estratégias metacognitivas.

Conclusões. O presente caso evidencia a importância que a atenção individualizada, bem como a oferta de adequações, representa no sentido de resgatar a confiança do educando em suas potencialidades para o aprendizado, resultando na promoção de seus conhecimentos, por meio da ressignificação da atuação escolar. 
Entre as intervenções possíveis, a fim de auxiliar os educandos com dificuldades de aprendizagem escolar, poderíamos considerar ainda a importância dos projetos de desenvolvimento emocional baseados na comunicação com o lado direito do cérebro. Mas sobre esse aspecto, darei maiores detalhes no próxima postagem.