quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Registro das Atividades em Atendimento Psicopedagógico



Quero compartilhar com os colegas de profissão uma forma de estruturar os atendimentos psicopedagógicos, a fim de chegar a uma melhor compreensão dos aspectos que estejam dificultando a apropriação dos conhecimentos pelo atendido. Existem outras maneiras de registrar as atividades que são propostas, bem como as observações referentes aos atendimentos clínicos. Assim, o modelo que proponho é apenas uma sugestão, a qual, acredito, pode ser útil, pelos menos para atender a demanda dos que estão iniciando sua atuação em Psicopedagogia clínica.  

RELATÓRIO DE OBSERVAÇOES PSICOPEDAGÓGICAS

1. Identificação
Nome:
DN:
Escola:
Responsáveis:
                                        
2. Queixa
Dificuldade de aprendizagem.

3. Entrevista com os Responsáveis
Ambos os responsáveis compareceram para a realização da entrevista. Na ocasião, ofereceram as seguintes informações. A criança nasceu a termo, pesando 3700 gr. Andou e falou dentro do período esperado. Durante seu desenvolvimento, foram mencionados os seguintes aspectos relacionados à sua saúde. Apresentou infecção no intestino aos seis meses, realizou tratamento e se recuperou adequadamente. Começou a estudar aos quatro anos de idade, na pré-escola. No momento, sua leitura é silabada, tendo a necessidade de receber constantes estímulos para continuar exercitando essa competência. Entre os passatempos que realiza no espaço do lar, gosta de montar coisas com peças de lego, demonstrando facilidade nesse tipo de tarefa. Não há queixas envolvendo seu processo atencional e, pelo relato dos entrevistados, a criança demonstra ser bastante inteligente, pelos comentários que realiza no dia a dia. Frequenta projeto de futebol.
  
4.  Aspectos Observados Durante a Avaliação
Durante o atendimento, com bastante frequência solicitou feedback de seu desempenho, perguntando: “Eu não fui bem?” “Eu não sou esperto?” Disse que ouve constantemente dos familiares que é inteligente e a seguir apresentou preocupação com o fato de os colegas não dizerem o mesmo. Depois mencionou que alguns colegas não gostam de brincar com ele (o que pode refletir mais sua própria percepção dessas interações). Comentou que tem um colega de outra sala que fica mandando nele e que ele não gosta disso, acrescentando: “Só quem pode mandar é o pai e a mãe e a professora”. Também mencionou que o barulho em sala tira sua concentração. Movimentou-se bastante (braços), parecendo que esse gesto refletiu mais a presença de ansiedade em situações de ensino e aprendizagem.

5. Cognição/Desempenho
Provas piagetianas. Realizou a prova em nivel esperado para a idade em que se encontra. Provas projetivas psicopedagógicas. Coleção Papéis de Carta. Surgiram algumas verbalizações relacionadas ao tema rejeição (lâminas 2, 4). Jogos psicopedagógicos. Jogo de damas. Apresentou boas estratégias durante o jogo. Compreensão de fatos em sequência. Conseguiu compreender adequadamente uma situação composta de quatro fatos, dispostos de modo aleatório, reorganizando-os de acordo com a ordem cronológica. Lateralidade. Cruzada. Leitura. Leu de modo silabado, apresentando alguns erros esperados durante o processo normal de aquisição do conhecimento. Por exemplo, leu “erra”, em vez de “era”; “nao”, em vez de “não”. Ao ser solicitado que lesse, usou expressões como: “Ah, minha mãe!” e “Lá vai”, denotadoras de insegurança, quanto à sua possibilidade de realizar com adequação essa atividade. Pediu ajuda quando achou necessário, apontando a palavra e dizendo: ”Isso daqui”. Pareceu estar desenvolvendo alguma resistência ao processo de leitura, necessitando ser estimulado e encorajado. Escrita. Está na hipótese alfabética, com necessidades (esperadas para o momento) ortográficas. Matemática. Montou e resolveu corretamente operação de adição com dezenas (sem reserva), porém colocou as iniciais “U” (unidade) e “D” (dezena) de modo invertido. Na adição com reserva, calculou corretamente, mas dispôs o resultado das somas em vertical. Realizou operação de subtração com unidades de modo adequado, recorrendo ao concreto (contou nos dedos).

5.2 Aprendizado Extraescolar
É incentivado, com a oferta de livros, a realizar leituras no espaço do lar. Apresenta facilidade em atividades com lego e gosta de jogos eletrônicos.

5.3 Aspectos Afetivos
É uma criança muito carinhosa. Quando deixado de castigo, pelos responsáveis, reage questionando o amor dos mesmos, conforme mencionado pela entrevistada. É sensível ao fato de não acompanhar os colegas quanto ao ritmo de produção, o que poderia indicar a necessidade de adequações pedagógicas ao ritmo do educando. Ele tem comentado com a responsável que os colegas não gostam de brincar das brincadeiras que ele sugere. Frequentou o serviço de psicologia por um mês e atualmente não frequenta nenhum tipo de atendimento.  

6. Conclusões
De acordo com os instrumentos utilizados, o nível de pensamento do educando encontra-se conforme o esperado para sua idade. Exceto pelas observações referentes ao ritmo de trabalho pedagógico, não foi percebido nenhum comprometimento em sua capacidade de concentração, ou em outro aspecto que pudesse comprometer seu aprendizado escolar. Portanto, em relação aos conteúdos desenvolvidos em sala de aula, seria importante adequar a oferta pedagógica ao ritmo de aprendizado da criança, para resgatar a sua autoconfiança. Assim, se os seus educadores considerarem relevante para seu progresso no aprendizado, poderia ser incentivado à resolução de um número menor de atividades exemplares, para lhe dar mais tempo para pensar e ser orientado em algum aspecto em que demonstre maior necessidade. Também será necessário retomar a explicação de conteúdos básicos que não teve a oportunidade de compreender adequadamente, como a disposição das operações. Poderão contribuir, ainda, atividades de educação física que proponham, de maneira lúdica, compreensão dos conceitos de direcionalidade. Em outras situações pedagógicas, também poderia ser oferecida a possibilidade de o educando exercitar a tomada de decisão, fazendo suas escolhas em momentos em que isso for possível. Por exemplo: escolher os integrantes de sua equipe nas atividades em grupo; votar, juntamente com os colegas, pela atividade que será realizada, etc, para ajudá-lo a desenvolver a autonomia e o sentimento de pertença. Transmitir segurança e compreensão, em decorrência de sua necessidade de tempo adicional, durante a resolução das atividades, poderá auxiliá-lo, para que administre melhor os indicadores de ansiedade relacionados ao aspecto pedagógico.    

7. Sugestões                                          
7.1 Para os Responsáveis:
A orientação aos responsáveis incluiu considerar a possibilidade de investir em momentos dedicados a atividades lúdicas desenvolvidas juntamente com o filho, para favorecer o fortalecimento do vínculo.
Considerar a possibilidade de retomar o acompanhamento em psicologia.

7.2 Para a escola e professores
- Posicionar o educando mais a frente, na sala de aula, para favorecer o processo de mediação do aprendizado;
- Encorajar a criança a expressar suas opiniões ou pontos de vista sobre os assuntos de seu aprendizado.


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