quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DOS EDUCADORES DE CRECHES E PRÉ-ESCOLAS PARA A PROMOÇÃO INTEGRAL DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

O texto apresentado a seguir foi, originalmente, apresentado em forma de slides e corresponde a um estudo psicopedagógico apresentado a uma equipe de educadoras da educação infantil. Quero compartilhar o conteúdo, para que os psicopedagogos que tiverem interesse pelo tema possam extrair ideias para a multiplicação da sensibilização dos profissionais envolvidos na educação voltada a essa faixa etária, pois é necessário compreender as principais transformações ocorridas até os cinco anos de idade, a fim de auxiliar as crianças em seu desenvolvimento integral. A duração da exposição transcorreu pelo período de 90 minutos.

Contribuições à Psicopedagogia a Partir da Narrativa de Cupido e Psique

“O amor não pode conviver com a desconfiança” (T. Bulfinch).

O     A estória de Cupido e Psique apresenta alguns elementos de interesse dos profissionais dedicados ao desenvolvimento das crianças, porque traz certos aspectos comuns ao trabalho pedagógico.

O     Esses elementos, que estão relacionados aos personagens da história, são: Desejo (Psique), Ignorância (Cupido), Poder (Venus) e mediação (Ceres, deus-rio, voz da torre).

O     Desejo: Ao iniciar a existência humana, o primeiro objeto de desejo é o seio materno e, portanto, o desejo atravessa a história da vida de uma pessoa. A contrapartida do desejo é a angustia (Ferrari, 2008, p. 55).

O     As atribuições dos educadores podem se concretizar como uma ação caracterizada pela afetividade, ou, de modo contrário, pela impessoalidade e até mesmo pelo autoritarismo. No último caso, haverá consequências negativas para o desenvolvimento.

O     Por outro lado, se as relações humanas pautadas pela afetividade perpassarem nossa prática, iremos contribuir para ajudar as crianças a alcançarem melhores condições de desenvolvimento psíquico, cognitivo e interpessoal.

O     Ignorância: os efeitos da ignorância, embora não intencionais, podem ser muito prejudiciais.

O     Mediação: Em diversas situações durante a nossa existência, somos incapazes de chegar ao que desejamos sem a ajuda ou a mediação de outros.
O     A mediação é o processo de se interpor entre o sujeito e seu objetivo. A primeira oferta de mediação que o bebê recebe vem de sua mãe. Na história contada, a ansiedade de Psique, ao pensar que seu desejo seria inalcançável, levou-a à angústia e ao desespero.
O     A possibilidade que o adulto tem de intervir e organizar as condições que agem sobre a criança, minimizando a ansiedade é um fator importante para que a criança se sinta segura. Às vezes essa ansiedade é proporcionada por algum tipo de gratificação que a criança não consegue adiar. Lembremos que a criança já tem contato com o desejo nos primeiros momentos da vida, mas a capacidade de se acalmar precisa ser desenvolvida.

OS VÍNCULOS INTERPESSOAIS NOS MOMENTOS INICIAIS DA VIDA

O     Vínculos Fortalecidos Facilitam o Desenvolvimento Saudável

O     De todos os vínculos estabelecidos, aqueles constituídos nos períodos iniciais da vida do sujeito serão os mais importantes, sendo que as matrizes constituídas nesse momento poderão se repetir, ou mesmo perpetuar-se ao longo da vida (Ferrari, 2008, p. 36).
O     Vinculações humanas afetivas sustentam o sujeito e proporcionam saúde mental, seu crescimento e a realização de seus projetos de vida. Quando esse apoio se perde, ou entra em crise, a saúde mental fica ameaçada. Os conflitos humanos inconscientes implicam a relação com os vínculos (idem).
O     Podemos exemplificar, nesse último caso, aquela criança que regride, que já havia deixado de fazer xixi na cama, que volta a fazer, depois de saber que a mamãe está grávida. Conflitos são inevitáveis e não podemos ser neutros em relação a eles, pois, como lembra Ferrari (2008, p. 36), o conflito é o motor do crescimento ou da estagnação do desenvolvimento humano (Ferrari, 2008, p. 36).
O      “A saúde mental não é um bem solitário, mas solidário” (Ferrari, p. 37).
O     Então, isso poderia nos fazer refletir naqueles casos em que a criança faz uma birra e o educador pede que encaminhe imediatamente para tratamento. O fato é que seria importante perguntar: O que você já observou a respeito dessas birras? O seu vínculo com a criança é forte o suficiente para que a criança se sinta segura?

A IMPORTÂNCIA DAS INSTITUIÇÕES PARA A SAÚDE MENTAL

O     “Todas as atividades humanas podem ser beneficiárias das propostas de saúde mental, em especial as institucionais e comunitárias” (Ferrari, 2008, p. 38).
O     O que nos leva a pensar que a instituição escolar, em decorrência do tempo que se dedica à educação e ao cuidado das crianças, poderá assumir um papel que influenciará significativamente o desenvolvimento posterior da criança.

OS PERIGOS DO EXCESSO DE REPRESSÃO

O     Os sintomas neuróticos (obsessões, fobias, histerias) são a forma como o reprimido alcança formas de se manifestar (Ferrari, 2008, p. 55).

O SURGIMENTO DA CAPACIDADE DE SOCIALIZAÇÃO

O     A socialização decorre da introjeção dos primeiros objetos (Ferrari, 2008, p. 62).
O     Se a interação da criança com os pais ou com as demais pessoas for marcada por conflitos acentuados nessas interações, a introjeção pode ocorrer de modo que a criança termine por internalizar modelos de conduta muito prejudiciais a sua socialização.
O     A dificuldade em introjetar aspectos positivos poderá acabar em depressão, que poderá levar ao suicídio (Ferrari, 2008, p. 62).

O EDUCADOR DEVE SER CAPAZ DE INTERFERIR POSITIVAMENTE NO AMBIENTE

O     Conviver em um ambiente adequado leva-nos a experimentar sensações positivas, fazendo com que o organismo produza dopamina, que acarreta melhora do humor (Moraes, 2009, p. p. 134).
O     Portanto, se desejamos um ambiente adequado ao aprendizado, podemos interferir no estado de humor da criança. De que modo? Criando um ambiente que possibilite que a criança vivencie sensações positivas. A competência do mediador poderá ser um fator importante para a promoção do desenvolvimento infantil.

O CONCEITO DE SEXUALIDADE NA PSICANÁLISE

AS ZONAS ERÓGENAS

O     Inicialmente ligadas à função vital, logo as áreas se dissociam (alimentação, micção, excreção), constituídas em zonas erógenas (Ferrari, 2008, p. 56).
O     A boca pode ser percebida como uma área erógena, já na infância, pois além da função alimentar, vital, também pode ser concebida como uma região ligada ao prazer quando, por exemplo, a criança usa a chupeta, que remete a uma ação não vital, quer dizer, não necessária a sua sobrevivência, mas unicamente à satisfação que o objeto causa, ao entrar em contato com a boca.
O     Isso pode ser percebido também no adulto, fase da vida em que além da função alimentar (vital), percebe-se, por exemplo, que a boca ocupa funções não vitais, como beijar. Quando ocorre a fixação nessa região, a pessoa poderá desenvolver hábitos nocivos, como o tabagismo.
O     Todo sujeito humano se acha marcado por suas experiências infantis (Ferrari, 2008. p. 59).

NECESSIDADE HUMANA DE REALIZAÇÃO

O     A energia sexual (libido), quando sublimada, pode se transformar em produções humanas intelectuais, artísticas, esportivas, etc (Ferrari, 2008, p. 55).

AS ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO SEXUAL INFANTIL DE ACORDO COM A PSICANÁLISE

O     Fase Oral (0-1 ano) A boca é uma região corporal privilegiada de relacionar-se com o mundo externo, por meio da qual experimenta sensações agradáveis e desagradáveis.
O     O movimento de sucção realizado ao ser amamentado evidencia a relação entre tal movimento e o prazer experimentado ao fazê-lo, que continua após a amamentação com o estímulo oferecido pela chupeta. Na falta da chupeta, pode ocorrer de estimular a boca com os próprios dedos, por exemplo, como algo que precede o adormecer. Outra característica da fase oral é o costume do bebê de levar tudo que encontra à boca.
O     O principal objeto de interesse da criança nessa fase é o seio materno.
O     A ausência do seio materno é a situação que leva ao início da simbolização como característica da espécie humana. Simbolizar é representar aquilo que está ausente. O seio materno é não apenas fonte de nutrição (vital), mas também de algo que alivia as tensões associadas à fome e, portanto, capaz de despertar a sensação de prazer (Ferrari, 2008, p. 61).

Fase Anal. (De 1 ano completo até os 3 anos de idade).

O     O bebê ganha autonomia e se reconhece como separado da mãe. Experimenta prazer decorrente do controle da expulsão da urina e das fezes. É o momento em que a criança consegue demonstrar o controle de esfíncteres, em parte em decorrência da pressão exercida pelo ambiente. A criança adquire a percepção de um novo poder.
O     Devido ao fato de que as pessoas responsáveis pelos seus cuidados exercem a expectativa de que a criança mantenha-se limpa, em decorrência do afeto que a criança nutre pelos responsáveis por seus cuidados, a criança busca corresponder a tais expectativas.
O     É nesse sentido que a criança aprende a lidar com a frustração.
O     Caso seja mal conduzida, essa etapa pode acarretar uma fixação no estágio.

FIXAÇÃO

O     A fixação é uma forma de permanecer apegado a características da fase em questão. Isso pode ocorrer tanto em uma situação totalmente anarquizada quanto em condições de exigência extrema.
O     A adequada intervenção do educador é importante, visto que: “Crianças pequenas vivem pelo princípio do prazer, um princípio primitivo que faz com que ela queira a satisfação imediata e completa dos seus desejos, sem levar em conta as consequências. Educar é ajudá-la a progredir em direção ao princípio da realidade, a tomar consciência de que ela talvez se sinta melhor se modificar alguns desejos, ou adiar sua satisfação em troca de vantagens de maior alcance e importância, a ganhar autocontrole, a adaptar-se às exigências que lhe são feitas, a conquistar uma identidade e maturidade” (Lobo, 1997, p. 70).

Estimulação Necessária às Crianças que se Encontram na Fase Anal

O     Oferecer materiais que tenham consistência semelhante às fezes, como plasticina e barro podem ajudá-la nesse sentido. Valorizar as ocasiões em que a criança faz uso do Toilet no momento oportuno é importante, pois contribui para o desenvolvimento de sua autonomia e autocontrole.
O     Por se tratar de um momento de internalização de normas e controles do corpo, será muito importante o elogio e o encorajamento. Dai em diante a criança começará a ter uma atitude diferente da anterior diante das fezes. Se era indiferente, agora os achará repugnantes. 
O     Merece menção o fato de que algumas crianças, orientadas por mães obcecadas por limpeza, acabam desenvolvendo a mesma atitude, recusando-se a brincar para não se sujar.

Fase Fálica (4 – 5 anos).

O     Ocorre, a partir desse momento, a manifestação de grande interesse da criança pelos genitais, próprios e das demais pessoas de seu convívio. O desejo de saber relacionado ao assunto pode incluir também atividade masturbatória.

A Importância de Compreender as Características Próprias desse Período

O     Em decorrência das próprias características do desenvolvimento, a criança torna-se mais narcisista. Isso não ocorre por maldade. Devemos ter em mente que a maturidade é um processo gradativo. Compreensão e elogio das ações altruísta da criança poderá ajudá-la a internalizar as expectativas sociais.

Um Acontecimento Importante na Fase Fálica: O Complexo de Édipo.

As relações começam a triangulizar. A criança quer ter a atenção e admiração da mãe somente para si, no caso do menino. Acontece o contrário com o sexo feminino. A menina deseja ter para si a atenção e a admiração do pai exclusivamente para si.
O     As relações começam a triangulizar. A criança quer ter a atenção e admiração da mãe somente para si, no caso do menino. Acontece o contrário com o sexo feminino. A menina deseja ter para si a atenção e a admiração do pai exclusivamente para si. Essa fase do desenvolvimento está acompanhada de ansiedade e sonhos de angústia. A resolução dos conflitos envolve a identificação da criança com o genitor do sexo oposto.
O     As hipóteses sobre a sexualidade, que a criança vai construindo, leva-a, no caso do menino, ao Complexo de Castração, e na menina, à Inveja do Pênis, que ocasiona o progressivo afastamento da mãe em direção ao pai. Quando os conflitos são superados, ocorre o surgimento do superego.

OUTRAS QUESTÕES IMPORTANTES PARA O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

O     A autoconfiança ajuda a superar os medos.   
O     Os medos da criança serão superados mais satisfatoriamente, quanto maior for a confiança depositada nos adultos responsáveis pelos seus cuidados (Lobo, 1997, p. 34).

A Influência do meio no Desenvolvimento da Autoconfiança

O     “Nenhuma criança nasce confiante e desconfiada. Isso ela aprende, através das suas experiências. Se ela recebe carinho, se suas necessidades básicas são satisfeitas, se não é enganada, se ela recebe atenção e apoio, se sente protegida e segura, a criança aprende a confiar. É confiando nos outros que ela ganha confiança em si mesma” (idem).

A linguagem do afeto

O     O sentimento de amor deve ser traduzido em uma linguagem que a criança possa compreender. Nesse sentido, o amor é percebido pelos estímulos físicos que a criança recebe, como a presença, o toque, o cheiro e a voz do adulto. Esses cuidados ajudam a criança a organizar sua vida mental (Lobo, 1997, p. 68).

Segurança Emocional

O     A segurança emocional é a base para o desenvolvimento físico, afetivo e mental (Lobo, 1997, p. 69).

Conclusão

Devemos estar atentos ao bem estar da criança e à promoção de seu desenvolvimento de forma integral. Essa tarefa é complexa e exige conhecimento das características do desenvolvimento infantil e disposição dos educadores para desenvolver situações que promovam a aquisição das habilidades não cognitivas. Quando a instituição se envolve com essas questões, pode interferir positivamente na qualidade de vida das comunidades, contribuindo para aproximar a relação entre escola e famílias.    

Bibliografia

BUDEL, Gislaine Coimbra; MEIER, Marcos. Mediação da aprendizagem na educação especial. Curitiba: Ibpex, 2012.

BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
FERRARI, Héctor A. Salud mental em medicina. Rosario: Corpus Libros Médicos y Científicos, 2008. 2ed.  

LAPANCHE, Jean. Vocabulário da psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
LOBO, Luiz. Escola de Pai: para que seu filho cresça feliz. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 1997.

MORAES, Alberto Parahyba Quartim de. O Llivro do Cérebro 2: sentidos e emoções. São Paulo – SP: Duetto, 2009.



Nenhum comentário:

Postar um comentário