A escola possui uma
tarefa de grande importância na formação do sujeito. Ao possibilitar-lhe o
acesso à escrita, oferece-lhe condições de prosseguir nos desafios posteriores
que encontrará na escola e na vida. A consequência dessa formação será
percebida tanto na esfera individual quanto na coletiva. Se bem sucedida,
permitirá ao indivíduo a realização da leitura de fruição, possibilitando,
consequentemente, a sua formação estética. Também promoverá a sua inserção nas
decisões da sociedade, favorecendo o exercício dos deveres e direitos na esfera
de sua cidadania.
Kaufman (1995)
esclarece que, no sentido atribuído por Roland Barthes ao ato de escrever, o
verbo é intransitivo quando se trata da escrita pelo prazer, quando o texto
importa menos pelo conteúdo do que pelo ato em si mesmo. Por outro lado, quando
o que predomina é a comunicação de uma ideia, não o aspecto estético do texto,
o verbo escrever é transitivo. Existindo tais possibilidades de emprego da
escrita, quando não for possível formar escritores, a escola deveria, ao menos,
formar pessoas que escrevem “com adequação, tranquilidade e autonomia”.
A mesma autora
emprega o termo “reificação” para explicar como a possibilidade de escrever
possibilita que se tome distância do texto depois de escrito, tornando-o um
objeto. O texto passa a ser uma “ferramenta cognitiva importante”, pois permite
que seu produtor seja capaz de aperfeiçoá-lo.
Outro aspecto que
esclarece, diz respeito à distinção entre sistema de escrita e sistema da
linguagem escrita. Pesquisas psicogenéticas são apontadas, demonstrando que a
compreensão do sistema de escrita e da linguagem escrita se dá simultaneamente
para o sujeito que aprende. A primeira expressão compreende elementos como
letras e signos. A segunda diz respeito à característica da mensagem
propriamente dita, ou seja, aos textos informativos, literários, expressivos,
apelativos.
Nesse sentido, um
dos problemas apontados se refere ao modo como a escola se posicionou em
relação ao ensino da escrita, considerando, por muito tempo, que o ensino da
linguagem escrita deveria ocorrer apenas depois que o aprendizado do sistema de
escrita tivesse sido constatado. Os textos utilizados para ensinar a escrever,
chamados pela autora de “escritos escolares”, tinham características pobres,
pois o que se desejava era que o aluno compreendesse a correspondência entre
letras e sons, sem que os textos fossem abordados dentro de suas dimensões
sociais.
As práticas
pedagógicas escolares eram ineficazes e enfatizavam a oferta de frases
desprovidas de sentido para os educandos, tais como “Eva lava a luva”. Afirma
que esse tipo de abordagem trazia frustração para os alunos, que chegavam à
escola com expectativas de aprender a ler por meio de leituras significativas,
possibilidade que não era encontrada em textos como o mencionado.
Etimologicamente,
“texto” significa “tecido”. Para compor esse “tapete” são cominados diferentes
tipos de recursos. As práticas escolares não consideravam as tipologias
textuais, suas funções, suas tramas nem a relação entre intenções comunicativas
e os recursos linguísticos empregados para produzir os textos.
A
consideração da complexidade dos textos reais que circulam na sociedade, o
conhecimento de suas características específicas e a prática do planejamento
constante, são aspectos apontados como forma de contribuir para a superação dos
problemas relacionados ao ensino de baixa qualidade.
Os
aspectos discutidos pela autora podem ser compreendidos dentro de uma abordagem
pedagógica e, portanto, capaz de prevenir o que modernamente se costumou
denominar como dispedagogia, ou seja, a existência de problemas de aprendizado
decorrentes do ensino inadequado.
Problemas de
aprendizado envolvendo um grande número de educandos em uma mesma turma ou
escola deveriam levar à revisão das metodologias empregadas, bem como outros
tipos de ações escolares, pois as dificuldades de aprendizado decorrentes de
necessidades individuais não justificam a ocorrência de fracassos em números
tão expressivos.
Mesmo que as
dificuldades individuais de aprendizado da leitura não sejam tão frequentes
como os problemas decorrentes do ensino inadequado, além do planejamento geral,
uma instituição deveria contemplar medidas para aqueles casos envolvendo os
alunos que necessitam de apoio pedagógico diferenciado, o qual poderá ser
ofertado por meio de estratégias diversificadas de ensino de leitura e escrita,
em vista da importância que o acesso à leitura representa para os estudos
escolares posteriores e demais aspectos da vida do indivíduo.
Consulta
KAUFMAN, Ana Maria; RODRIGUES, Maria
Helena. Escola, leitura e produção de
textos. Porto Alegre: Artmed, 1995.
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