Explicação Inicial
A
apresentação deste material foi feita na semana de reflexões de práticas
pedagógicas, no primeiro bimestre de 2014. Constitui apenas uma sugestão para
iniciar o trabalho de atendimento ao público identificado dentro do critério
AH/SD e não é uma proposta acabada. Espero que possa contribuir de alguma maneira para os interessados no assunto.
Objetivos
do Encontro
Promover, na Área de
Educação, um olhar voltado para a valorização da diversidade, em que a escola
contribua para desenvolver o sentimento de pertença em toda a sua clientela,
favorecendo o acolhimento dos alunos com capacidade acima da média, por meio da
identificação e estimulação de seus potencias.
O Atendimento ao Aluno com Potencial Acima da Média
Mesmo
no caso do Brasil, o interesse pelo tema não é algo novo, o que pode ser
percebido pelo que o autor a seguir afirma a respeito do mesmo:
“E o superdotado gosta e precisa de programas
variados, situações diferentes, provocações que permitam a ele experimentar,
descobrir, investigar, pensar, porque sua necessidade intelectual é maior do
que as da criança comum e ele exige uma dose maior de variedade, de
originalidade, de desafios” (Lobo, 1997, p. 476).
Questionamento
Quais
são as Políticas Públicas que norteiam o atendimento aos estudantes que
apresentam capacidade acima da média?
Marcos
Legais
Ø Em
1971, por meio da LDB (Lei 5692/71), em seu art. 9º, pela primeira vez
encontramos referência ao tema “superdotação”, em texto de lei, tornando
obrigatório o atendimento especializado desse público.
Ø A
Resolução CNE/CEB Nº 2 de 2001 - Diretrizes Nacionais para a Educação Especial
na Educação Básica, em seu Art. 5º, considera educandos com necessidades
educacionais especiais os que, durante o processo educacional, apresentem:
[...] III – altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem
que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes (BRASIL,
2001, p. 2).
A
Constituição Federal de 1988, no Art. 206, inciso I, afirma a “igualdade de
condições de acesso e permanência na escola”, o que resulta no surgimento de um
marco legal que estabelece “como dever do Estado”, a oferta do atendimento
educacional especializado, e assegura esse atendimento, “preferencialmente na
rede regular de ensino” (Art. 208) (Brasil, 2010, p. 11).
Questionamento
Quais
são as práticas implementadas para esse atendimento?
Trabalhar
com a diversidade
Requer,
antes de tudo, derrubar dois mitos. Primeiro: os estudantes que integram o
público atendido no critério “altas habilidades/ superdotação” não devem ser
vistos como “gênios” dotados de capacidades raras em tudo - só apresentam mais
facilidade do que a maioria em determinadas áreas. Segundo: o fato de
apresentarem maior facilidade em certas áreas do conhecimento não exige menor
atenção por parte de seus educadores. Ao contrário, eles precisam de mais
estímulo para manter o interesse pela escola e desenvolver seu talento - se
não, corre-se o risco até mesmo de ocorrer evasão escolar.
Problema
Como oferecer um atendimento
especializado de qualidade aos estudantes com capacidade acima da média?
PROJETOS
Uma
das maneiras de ofertar o atendimento especializado para os estudantes que
apresentam maior facilidade de aprendizado e desempenho em determinada área do
conhecimento seria por meio da oferta de projetos que contribuam para a
estimulação de potencialidades. Para isso é necessário ter claros alguns
pontos.
FILOSOFIA
DE TRABALHO
É
importante que os professores optem por atitudes que contribuam para o
desenvolvimento da autonomia da clientela atendida pelo projeto. Por exemplo, o
professor de arte poderá negociar com os alunos o que eles preferem pesquisar
em determinado momento, após discutir algumas opções, escolas, tendências,
temas, etc. O professor deve mediar, incentivar e orientar, mais do que decidir
pelos alunos.
MEDIAÇÃO
DA APRENDIZAGEM
Este
é um tópico que diz respeito a todo o coletivo escolar. Os autores Budel e
Meyer (2012) apresentam doze tipos de mediação da aprendizagem, conforme
propostas por Feuerstein. Dentre essas, apresentaremos as que acreditamos que
podem contribuir para o trabalho com alunos identificados no critério “altas
habilidades/superdotação”.
“Mediação do
comportamento de compartilhar”.
Compartilhar
experiências do dia a dia fortalece os vínculos afetivos. Compartilhar as
dificuldades e os êxitos do aprendizado também aproximam as pessoas porque
ajuda a construir um ambiente mais humanizado. “A relação professor-aluno
deve ser uma relação afetiva, de admiração e de respeito mútuos” (Budel; Meier,
2012, p. 154).
“Mediação da busca,
planejamento e alcance dos objetivos”.
O
professor deve deixar claro para os alunos o objetivo de cada etapa de seu
trabalho. Isso contribui para que o aluno aprenda a realizar planejamentos para
sua própria vida.
“Mediação da busca
pela adaptação a situações novas e complexas: o desafio”.
Nesse
tipo de mediação estão envolvidos dois aspectos: a familiaridade e a complexidade.
A familiaridade envolve a consideração do eixo fácil/difícil. Deve-se
oferecer tarefas que mantenham um equilíbrio, para que o aluno não se depare
com algo muito fácil ou muito difícil. A complexidade considera o eixo
simples/complexo. A pesquisa em uma fonte pode ser simples, mas se depender de
diversas fontes, poderá ser algo complexo demais. A tarefa deve levar em conta
a possibilidade do sujeito. Assim, não será demasiadamente simples ou complexa,
mas desafiadora e estimulante. Para realizar esse tipo de mediação, o professor
deve conhecer bem tanto o assunto trabalhado como o sujeito a quem a tarefa
será proposta. Só assim pode elaborar desafios adequados, na medida certa.
“Mediação da
consciência da modificabilidade”.
Nessa
forma de mediação o professor apresenta para o aluno os resultados alcançados
em seu processo de aprendizado. A abordagem desse processo possibilita ao aluno
perceber o quanto evoluiu.
“Mediação do
sentimento de pertença”.
Sentir
que se pertence a um grupo é uma das coisas que contribui para o sentimento
positivo de autoestima. “A solidão, sentimento contrário, é um fator que
interfere negativamente na autoestima”. Elogiar é uma das maneiras de
promover esse sentimento nos alunos. Isso pode ocorrer tanto a ele diretamente,
quanto à sala a qual pertence, ou mesmo a um projeto do qual a escola
participe, que o deixe orgulhoso de pertencer a tal instituição. “Assim, o
professor pode ser fundamental na construção de um clima saudável para seus
alunos. Ele deve agir de forma proativa, criando espaços que valorizem a
participação do aluno e desenvolvam neste o orgulho de fazer parte da escola”
(Budel; Meier, 2012 p.163).
AS
ETAPAS DO PROJETO
Primeira:
identificação dos alunos com altas habilidades/superdotação.
Segunda:
elaboração do projeto com o coletivo escolar. Envolve a articulação do projeto,
definindo os papéis de cada envolvido no atendimento aos educandos que compõem
o público-alvo do mesmo.
Terceira: Intervenção e Acompanhamento.
A
IDENTIFICAÇÃO
Quem
faz?
O
professor polivalente, nas séries iniciais.
O
professor de área, nas séries subsequentes.
Como
faz?
Os
professores utilizam o checklist por áreas, a fim de observar as
características do desenvolvimento do (a) educando (a).
No caso dos professores das
séries de alfabetização, ao identificar crianças com maior facilidade de aprendizado, poderão
apresentar conteúdos mais avançados em relação ao ano escolar que a criança
frequenta, caso o potencial demonstrado esteja relacionado aos conteúdos de
sala comum, enquanto continua observando o caso, para a realização de um
diagnóstico mais detalhado.
Identificação
Por Áreas de Conhecimento ou Desempenho
Matemática,
linguagem, ciência, tecnologia da informação, geografia, arte, história,
educação física, línguas estrangeiras modernas, música, educação religiosa,
design e tecnologia, desenvolvimento pessoal, drama.
SEGUNDA
ETAPA
Elaboração
do Projeto. Define: o papel de cada um no serviço de atendimento; tema e
duração do projeto; conteúdos a serem trabalhados.
TERCEIRA
ETAPA
Acompanhamento
e Intervenção. Consiste em acompanhar o projeto, realizando avaliações de seu
andamento, identificando entraves e proporcionando os ajustes necessários. Para
isso, é preciso ter claro o papel de cada participante no projeto.
PROFESSORES
Cabe aos professores de
sala, devido ao tempo que passam com os alunos, perceber os indícios que
apontam para a existência de potencial elevado em qualquer das áreas já
descritas. Em seguida, comunica suas observações ao coordenador pedagógica da
escola.
COORDENAÇÃO
Após
comunicada pelos professores de sala comum, apresenta o caso ao (a)
psicopedagogo (a) e professores da Sala Multifuncional. A equipe define, com a
direção escolar, uma data para discutirem os casos e estabelecer as ações
necessárias, juntamente com os professores (polivalente/de área).
Ao
longo do trabalho, a coordenação procurará manter um olhar global sobre o
desenvolvimento do projeto, suprindo os recursos necessários, no que diz
respeito aos conteúdos pedagógicos suplementares, com o apoio dos professores
de área.
A
Coordenação buscará mediar o trabalho com os professores de Sala
Multifuncional, disponibilizando os recursos pedagógicos ou fontes de consulta,
como materiais didáticos (livros, sites educativos e outros), bem como
identificar os recursos disponíveis na comunidade (bibliotecas, núcleos de
atividades esportivas e culturais, etc), comunicando aos alunos do público-alvo
do projeto sobre as datas de inscrições para participarem das referidas
modalidades.
PSICOPEDAGOGO
(A)
Ao
tomar conhecimento de que o (a) aluno (a) apresenta maior potencial em
determinada área do desenvolvimento, ajudará na elaboração de estratégias
pedagógicas. Isso será feito a partir da discussão do caso com o professor da
Sala de Recursos Multifuncional. Cabe ao profissional de Psicopedagogia
esclarecer aos pais, cujos filhos estejam inseridos no projeto, aspectos como
os critérios de identificação e a importância de acompanhar o processo e
incentivar a frequência dos filhos.
PROFESSORES
DE SALA DE RECURSOS
Esses
profissionais poderão contribuir atuando como mediadores do atendimento. Após
receberem as atividades sugeridas pelos professores que identificaram a área de
conhecimento em que o aluno se destaca, trabalharão pelo período estabelecido
para a duração do projeto. Buscarão efetivar as formas de mediação definidas
anteriormente.
Poderão
auxiliar tomando conhecimento dos conteúdos que os alunos irão pesquisar na
Sala Multifuncional, incentivando, valorizando e, quando necessários,
disponibilizando acesso aos recursos de mídia para o aprofundamento do tema
estudado. O professor de Sala Multifuncional deve ser, antes de tudo, um
mediador, valorizando e estimulando a autonomia dos educandos.
PROFESSORES
DE ÁREA
Terão
duas linhas principais de atuação quanto ao desenvolvimento do projeto:
Primeira:
discutirão as possibilidades, auxiliando o educando quanto à decisão pelo tema
que será trabalhado, definindo também prazos, etapas, conteúdos a serem
pesquisados, as formas de divulgação dos resultados do projeto.
Segunda:
apresentarão sugestões de atividades que serão disponibilizadas à Sala
Multifuncional, para que os alunos possam pesquisar os conteúdos relacionados
ao tema do projeto. Os professores de área específica dão suporte ao projeto em
todas as suas fases e comunicam à coordenação as eventuais dificuldades
encontradas em sua execução.
EDUCANDOS
A fim de receberem um
atendimento de maior qualidade, serão agrupados por áreas afins ou por temas.
Ou seja, alunos com facilidade na comunicação (escritores, desenhistas, contadores
de histórias) poderão frequentar o projeto na mesma turma, caso se trate de um
projeto coletivo. Outra opção seria agrupar apenas por áreas de desempenho
(linguagem, matemática, arte, etc). Serão disponibilizados os materiais de consulta
necessários. Eles deverão participar na elaboração do projeto, para que se
sintam responsáveis pelas decisões, desenvolvam a autonomia, cumpram os prazos
estabelecidos e aprendam a planejar suas ações.
PARCERIAS
A Equipe, composta dos
profissionais da escola, incluindo psicopedagogos, coordenadores, professores
de sala regular (polivalentes e de áreas específicas) e de Sala de Recursos
assumirão a responsabilidade em conjunto pela elaboração do projeto de
atendimento. Quando o atendimento não puder ser oferecido na própria escola, a
coordenação se informará a respeito das possibilidades de parcerias com
instituições existentes na comunidade.
A
FAMÍLIA
As
famílias receberão orientações sobre o tema “altas habilidades/superdotação”.
Isso inclui informar os responsáveis sobre os critérios utilizados para
identificar o público-alvo do projeto, bem como os seus objetivos. A orientação
familiar é importante, porque contribui para desmistificar ideias equivocadas
sobre o assunto. Essas orientações serão oferecidas pelos profissionais de
Psicopedagogia.
PROJETOS
O
projeto de atendimento será elaborado pelo coletivo escolar (professores,
coordenadores, psicopedagogos, alunos). Como já mencionado, os alunos poderão
ser atendidos de acordo com o critério de agrupamento por áreas afins ou de
áreas específicas. A equipe define, na elaboração do projeto, aspectos como:
dias e horários do atendimento; data de início; os temas que serão abordados; o
tempo de duração do projeto; os critérios de avaliação; como os trabalhos serão
divulgados, entre outros pontos.
FUNÇÃO
SOCIAL DO PROJETO
Escrever
apenas para ser avaliado pode ser um dos fatores que promovem a desestimulação
do aluno. Por outro lado, quando o conhecimento tem uma função social,
recupera-se o sentido do aprendizado. Por isso, seria importante que os alunos
que produzirem conteúdos escritos, possam escrever sobre suas próprias
experiências na participação do projeto, bem como informar a escola a respeito
dos aspectos do atendimento dos demais grupos, como os alunos atendidos nas
áreas de Matemática, Arte, habilidades cinestésico-corporais (em projeto
externo), etc. A conclusão poderia ser combinada na forma de um jornal, nesse
caso.
DIVULGAÇÃO
No
encerramento do projeto, caso os alunos trabalhem por agrupamentos por áreas
afins, serão definidos os papéis de cada participante no que diz respeito à
divulgação. Quem fará as entrevistas, as fotografias, a elaboração de textos
opinativos, a postagem no Blog da escola, etc.
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Ministério
da educação. Secretaria de Educação Especial. Marcos Político-Legais da
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: Secretaria de
Educação Especial, 2010.
BUDEL, Gislaine
Coimbra; MEIER, Marcos. Mediação da aprendizagem na educação
especial. Curitiba: Ibpex, 2012.
LOBO, Luiz.
“Escola de Pais: para que seu filho cresça feliz”. Rio
de Janeiro: Lacerda Editores, 1997.
PAPALIA, E. Diane; OLDS, Sally Wendkos; FELDMAN, Ruth
Duskin. Desenvolvimento
humano. Artmed: Porto Alegre, 2006. 8 ed.
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