“Pela ênfase em escutar
profundamente — a nós e aos outros —, a CNV promove o respeito, a atenção e a
empatia e gera o mútuo desejo de nos entregarmos de coração” (Rosemberg).
No contexto da educação
moderna, a relação entre escola e desenvolvimento global do educando é um tema
que remonta ao nascimento da orientação educacional. Como explicam Schmidt e
Pereira (1973, p. 51), o surgimento da orientação educacional ocorre no final
do século XIX, mais exatamente no ano de 1895, em São Francisco, Estados Unidos.
Inicialmente voltada para os aspectos do desenvolvimento profissional dos
educandos, passou, posteriormente, a se interessar pelos aspectos globais do
desenvolvimento:
“Logo
no início do século XX, deu-se uma ampliação natural da Orientação, obedecendo
à necessidade de assistir o educando no desenvolvimento de todas as suas
estruturas – física, mental, moral, social, artística, científica, política,
religiosa. A orientação passou a ter a amplitude que hoje lhe atribuímos: o
estudo completo da personalidade do educando, das aptidões e das relações com
os diferentes ambientes sociais em que ele vive – escola, família, sociedade,
igreja; aconselhamento, encaminhamentos a serviços especializados”.
Outro autor (Nérici, 1974, p.
33-34) afirma que a função de orientador educacional era desempenhada por
licenciados em Pedagogia, com habilitação em Orientação Educacional, ou por
profissionais que tivessem realizado formação na área por meio de cursos de pós-graduação.
E, por fim, por aqueles que tivessem obtido diploma em Orientação Educacional
por meio de formação no exterior, após revalidado de acordo com a legislação em
vigor.
Entre as atribuições do
orientador educacional, estava o atendimento individual do educando: “A função de atendimento individual tem por finalidade
atender educandos com dificuldades maiores aos estudos, ao ajustamento escolar,
familiar e social” (op. cit. p. 31). Portanto, a relação entre instituição
escolar e uma intenção de contribuir para a formação global do sujeito não
constitui de modo algum interesse recente por parte de profissionais
pertencentes à área da educação.
A necessidade de oferecer
educação emocional às crianças e jovens nos dias atuais pode ser justificada pelas
mudanças sociais ocorridas, as quais apresentam diversas demandas individuais: necessidades
relacionadas à autoestima, ao desenvolvimento de atitudes como responsabilidade,
capacidade de administrar os conflitos da convivência, etc. Além disso, fatores
econômicos, familiares, assim como o crescimento da violência são alguns
aspectos que trazem para a escola a necessidade de se pensar sobre a
importância da educação emocional (Nogueira, 2009, p. 14), o que poderia envolver
metas voltadas às famílias, preparando os pais para essa tarefa (op. cit. p.
73).
São muitas as situações
ocorridas diariamente dentro do ambiente escolar que poderiam ser evocadas para
justificar a preocupação em levar para a discussão temas relacionados à
convivência, afetividade e valores. Poderíamos pensar sobre o modo como as
tensões experimentadas pelos alunos na vida extraescolar podem influenciar a
convivência dentro do ambiente da instituição. Práticas nesse sentido poderiam
incluir intervenções destinadas a minimizar tensões existentes, bem como
envolver ações com caráter preventivo.
Combater
a Prática do Bullying
Atualmente, podemos pensar
também nas recorrências da prática do bullying como um aspecto que exige dos profissionais
envolvidos no cotidiano escolar um posicionamento. Os trabalhos de orientação
relacionados à temática do bullying precisam esclarecer o conceito. Muitos
pais, alunos e, às vezes, até mesmo educadores, nem sempre possuem muita
clareza sobre isso. Portanto, é necessária uma definição sobre esse tema. Assim,
bullying:
“Compreende
todas as formas de atitudes agressivas, realizadas de forma voluntária e
repetitiva, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais
estudantes contra outro (s), causando dor e angústia e realizada dentro de uma
relação desigual de poder” (Abrapia – associação brasileira
multiprofissional de proteção à infância e à adolescência).
Entre
os indicadores de que uma criança ou adolescente possa estar sendo vítimas de
bullying, podem estar condições como baixo rendimento escolar, falta
às aulas sob a alegação de estar doente, ter conceito deficiente de si mesmo,
ter seus materiais escolares danificados, apresentar alterações acentuadas de
humor, entre outros indícios. Por outro lado, os agressores costumam demonstrar
aspectos como atitude hostil e desafiadora em relação aos demais, passando a
acreditar que a violência constitui forma legítima de conseguir o que querem, possuir
objetos ou dinheiro que não sabem justificam a origem, etc. O desenvolvimento
tecnológico também ocasionou a modalidade de bullying conhecida como cyberbullying.
Todas essas questões
apresentam a demanda, tanto às famílias quanto à escola, para que sejam
traçadas estratégias visando à conscientização dos perigos relacionados à
prática do bullying. As consequências podem ser prejudiciais para todos os
envolvidos, desde aqueles que o praticam, até os que o testemunham passivamente,
ou ainda os que são vítimas dessa prática. Falar sobre esse assunto nos faz
pensar sobre o quanto é urgente que as instituições escolares adotem práticas
efetivas para o combate ao bullying, dentro e fora das instituições de ensino.
A
Comunicação Não-Violenta Como Alternativa aos Conflitos na Convivência Escolar
e a Contribuição do Psicopedagogo Institucional para Cultura da Paz
Nesse sentido, compreender as características
da comunicação não-violenta poderá trazer importantes contribuições à
convivência no espaço escolar. Debater os relacionamentos interpessoais,
percebendo o quanto a comunicação adequada poderá contribuir para minimizar
situações conflitivas, poderá trazer resultados benéficos para todos os
envolvidos nesse debate.
Os quatro componentes da CNV
são: 1. observação; 2. sentimento;
3. necessidade; 4. pedido.
Observação: Procuramos
observar uma situação, a princípio, sem julgá-la, para compreendê-la adequadamente.
Sentimento:
buscamos compreender o modo como algo nos afeta emocionalmente.
Necessidades:
percebemos o que é necessário alterar em tal situação, para que seja atendida
uma necessidade.
Pedido: expressamos
a necessidade sentida por meio da verbalização.
A explicação do tema
Comunicação Não-Violenta pode ser realizada no espaço da sala de aula, com
intervenção previamente combinada e discutida entre psicopedagogo e professor.
O psicopedagogo poderá estruturar sua apresentação e elaborar as dinâmicas e em
seguida realizar a intervenção conforme já explicado. Para entender como a
comunicação não-violenta funciona na prática, poderão ser analisados, com a
turma de alunos, exemplos com os oferecidos a seguir:
Exemplo
A: O Pedido da Professora
Imaginemos que a professora
queira fazer uso do modo de CNV para se expressar em relação a determinado
comportamento de um grupo de alunos, os quais não entregaram os trabalhos
dentro do prazo estabelecido:
Tenho
notado que vocês não trouxeram as lições pedidas nas aulas anteriores
(observação). Isso me deixa muito incomodada, pois em breve teremos a avaliação
e eu não tenho como avaliar as dificuldades de vocês nesse assunto
(sentimento). Dessa forma, preciso que vocês me entreguem as tarefas para que
possa corrigi-las (necessidade). Poderiam me entregar as atividades realizadas
na próxima aula? (pedido).
No exemplo seguinte, um aluno
sente-se prejudicado pelo uso de seus materiais pelos colegas. Tomei a
liberdade de sugerir que, tanto quanto possível, a observação inicial possa
conter também aspectos positivos, para minimizar resistências do interlocutor.
Exemplo
B: O Uso Compartilhado de Materiais Escolares
Percebi
que você usa os meus materiais quando está sem o seu. Sei que você é legal, e
não se importa de emprestar os seus materiais também quando os colegas precisam
(observação). Mas às vezes preciso de minha borracha e não faço ideia de onde
está, porque os outros a pegam de sua mesa e não devolvem depois de usar. Isso
me faz me sentir frustrado, porque atraso a conclusão de minhas atividades
(sentimento). Somente preciso que você devolva depois que tiver usado
(necessidade). Poderia colocar a borracha sobre a minha carteira depois que a
tiver usado? (pedido).
Considerações
Finais
Uma boa comunicação é algo
essencial à superação de conflitos entre as pessoas. Nesse sentido,
comunicar-se de modo mais eficiente poderia contribuir para a melhora nas
condições envolvidas na convivência escolar, familiar e nos demais contextos
sociais. Durante a intervenção, os educandos poderiam ser incentivados a
elaborar seus próprios exemplos e a generalizar as habilidades aprendidas. Os
depoimentos positivos ouvidos, de professores e educandos, após desenvolver
reflexões sobre a Comunicação Não-Violenta em sala de aula, podem ser muito
satisfatórios. Ajudar crianças e jovens a desenvolver potenciais em consonância
com as exigências de nossa época, caracterizada por grandes transformações
sociais, é algo desafiador e estimulante. Faz-nos indagar sobre o papel da
escola frente às necessidades do presente. E para refletir sobre essas
questões, termino com uma observação de Oliveira (2004, p. 79), que nos lembra
a relação entre a educação e a possibilidade de preparar para o presente, para
que possamos vivê-lo com plenitude.
Bibliografia
Bullyng não é legal. MPSP Ministério
Público do Estado de São Paulo.
NÉRICI,
Imideo Giuseppe. Introdução
à Orientação Educacional. São Paulo: Atlas, 1974.
NOGUEIRA,
Nilbo Ribeiro. Educação
emocional: perspectivas para uma prática pedagógica. Pinhais:
Editora Melo, 2009.
OLIVEIRA,
Ivone Boechat. Competência
emocional. Rio de Janeiro: Reproarte, 2004.
ROSENBERG, Marshall
B. Comunicação Não-Violenta. São Paulo: Ágora, 2006.
SCHMIDT,
Maria Junqueira; PEREIRA, Maria de Lourdes de Souza. Orientação educacional. Rio de
Janeiro: Agir, 1973.
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