“A
educação é direito social, valor mínimo de uma sociedade que se pretende justa,
livre e solidária, nos termos da Constituição da República (ECA
Comentado).
“O
impacto sobre a aprendizagem escolar é tamanho que demanda a garantia de
direitos desses estudantes no contexto da educação inclusiva”
(Rotta, Ohlweiler, Riesgo).
O TDAH (Transtorno do Déficit
de Atenção e Hiperatividade) constitui um assunto que começou a chamar a
atenção da comunidade científica no ano de 1900. Nesse primeiro momento, a
terminologia ainda não existia. O que ocorria era o interesse de pesquisadores por
certo grupo de crianças, aparentemente com funcionamento cognitivo normal, porém
que apresentavam características próprias quanto às suas condições motoras,
pois eram mais agitadas, em comparação às outras crianças da mesma idade. Em
1966, Clements classifica essa condição como “Déficit de Atenção”. Posteriormente,
a OMS (Organização Mundial da Saúde) passa a incluir a classificação no CID-9.
Segue-se a isso a inclusão do transtorno do déficit de atenção, com ou sem
hiperatividade, no DSM-3, em 1980. Na versão deste manual lançada no ano de
1987 é utilizada a expressão “distúrbio de déficit de atenção e
hiperatividade”. A partir do ano de 1994, a descrição do transtorno passa a
conter os aspectos tanto da hiperatividade quanto da desatenção (Rotta, Ohlwelar,
Riesgo, 2016).
O fato é que a pessoa com
sintomas de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) encontra
prejuízos em seu funcionamento não apenas na infância ou no aprendizado
escolar. As mesmas condições podem se estender até a vida adulta. Em
decorrência da presença dos critérios que caracterizam o transtorno, o sujeito
experimenta comprometimentos em diferentes áreas de funcionamento, como o
aprendizado formal, o campo profissional e no âmbito dos demais relacionamentos
sociais. Não recebendo atenção durante a infância e por não se sentir adequada
àquilo que os demais esperam dela, a criança desatenta e/ou hiperativa poderá
estabelecer relacionamentos com quaisquer grupos pelos quais se sinta aceita,
possibilitando o risco de se envolver em comportamento delinquente. Na vida adulta,
as características do transtorno poderão ocasionar outros riscos, como abuso de
álcool e drogas, dificuldades na área profissional e risco de se envolver em acidentes
de transito (op.cit. p. 276).
Os aspectos anteriores indicam
como o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) costuma estar
acompanhado de prejuízos em diversas esferas da vida do sujeito, seja criança
ou adulto. Em decorrência disso, poderemos supor que a melhor intervenção
deveria ser realizada de modo preventivo, já durante os anos iniciais da
infância.
Uma vez que a trajetória escolar
representa etapa importante para o desenvolvimento integral e harmonioso do
sujeito, a necessidade de adequações pedagógicas e ambientais no ambiente
escolar poderá proporcionar as melhores condições possíveis para a continuidade
dos progressos na aprendizagem daquelas crianças que possuam os critérios para
o transtorno.
Adequações
Necessárias
Pelo fato de encontrar
dificuldade para sustentar a atenção durante a realização de atividades
extensas, a pessoa que apresente os critérios para TDAH pode apresentar
prejuízos em sua aprendizagem. Essa condição faz necessária a estruturação do
ambiente escolar.
Investindo
na Melhora da Comunicação com o Educando
A comunicação entre educador e
educando é um tópico de grande relevância para a oferta de adequações
pedagógicas efetivas. Nesse sentido, é importante que os professores se
questionem, após as orientações feitas, sobre se o educando compreendeu
corretamente o que deverá fazer. Esse posicionamento dos educadores inclui a
ênfase nos aspectos metacognitivos (sublinhar e resumir informações, realizar
autocorreção, etc), podendo refletir positivamente no nível de compreensão e
aprendizagem dos assuntos alcançados pelo educando. Por exemplo, a produção de
um texto pode ser algo muito natural para alguns alunos, mas a criança com os
critérios de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) poderá
achar mais fácil realizar o que se pede se o tipo de texto que deverá produzir
for explicado conforme a sua tipologia específica. Outra ação importante no
aspecto comunicacional inclui oferecer informações de modo objetivo (frases
breves). Além disso, demais estratégias pedagógicas poderão incluir o uso de
recursos multissensoriais (quadros ilustrativos, música, tecnologias).
Parte do processo de
comunicação pode ser considerado também o momento em que o educador oferece
feedback ao educando. Nesse sentido, o elogio, oferecido imediatamente ao
alcance de determinado objetivo pedagógico, poderá servir para encorajar o
educando, para que não se sinta desestimulado diante dos grandes desafios
pedagógicos que percebe estarem diante de si. Com a prática do elogio realizada
no momento adequado, estimula-se a que o educando encontre um novo significado
em seus esforços para aprender.
Adequações
de Tempo e de Espaço da Sala de Aula
No espaço da sala de aula,
algumas situações serão experimentadas como ainda mais desafiadoras. O tempo
possui uma dimensão subjetiva. Uma atividade de que gostamos causa-nos a
impressão de ter transcorrido rapidamente. Quando enfadados, parece que o tempo
passa devagar. Caso o espaço escolar não contribua para que o educando
experimente êxito em seus esforços, este poderá vivenciar esse local de uma
maneira que pouco poderá contribuir com os objetivos educacionais da
instituição. Assim, se o educando se sentir confuso diante de diversas
situações pedagógicas em que encontre dificuldades para administrar sozinho,
poderá sentir desestimulado. Para que essa situação não ocorra, será necessário
investir na elaboração de estratégias que o ajudem a se organizar, em relação
ao tempo e ao espaço de suas aprendizagens. Na sala de aula, por exemplo, a
distração poderá ser controlada se o educando estiver sentado mais próximo do
professor, facilitando a intervenção e minimizando os efeitos de estímulos
concorrentes sobre o foco atencional. A oferta de tempo adicional para a
realização das atividades em que o educando encontre maior dificuldade poderá
ser outra ação necessária. Lembrar as datas e os prazos para a entrega de
trabalhos poderá contribuir tanto para que não ocorram perdas de prazos quanto
para que o trabalho não seja feito na última hora.
Parceria
com a Família
A parceria com as famílias de
educandos diagnosticados com o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade) será de grande ajuda para minimizar os efeitos das
características que costumam acompanhar esse diagnóstico. Muitas vezes, essas crianças
pertencem a famílias que dispõem de pouca informação sobre o transtorno. É
importante deixar claro para a família que não se trata de preguiça. Muitas
vezes o educando realmente deseja fazer bem feito. Sem receber a ajuda adequada
da escola e da família, a criança poderá desanimar. A parceria com a família
poderá contribuir para que a rotina do educando seja estruturada, ajudando-o a
se organizar, para que disponha de tempo o suficiente para os estudos das
tarefas para casa. Em parceria com a escola, as famílias podem ser orientadas a
dar feedback positivo, reconhecendo os esforços realizados pelo educando.
Adequações
Relacionadas À Produção Escrita
O educador deve estar ciente
de que a atividade de escrita é complexa. Portanto, a produção de textos seria
mais proveitosa oferecendo a oportunidade de que o educando possa se concentrar
em uma atividade de cada vez. Por exemplo, poderia ser oferecido tempo para que
o educando possa escrever, inicialmente, deixando a correção textual da
ortografia para um momento posterior. O que pode parecer simples, para uma
criança em condições de atenção adequada, poderá ser muito desafiador para uma
criança com dificuldades atencionais acentuadas. Assim, a intervenção do
educador será de grande ajuda. Por exemplo, dividindo a atividade em momentos
para planejar, escrever e revisar as produções textuais.
Essas intervenções podem ser
justificadas por pesquisas atuais que demonstram que os textos produzidos por
crianças que possuem o diagnóstico de TDAH costumam apresentar características
distintas (maior quantidade de erros ortográficos, frases mais curtas, dificuldades
na sintaxe). Para a oferta de outras adequações na produção de textos, o
educador poderá, ainda, minimizar o número de tarefas que exijam cópias
escritas extensas e, quando possível, considerar as respostas oralmente.
É interessante considerar que
uma das estratégias educacionais atuais para gerar a produção de ideias seja
exatamente a elaboração de mapas conceituais (mapas mentais) (DELL”Isola, 2011).
Ao fazer uso de mapa conceitual, o educador poderá incentivar o educando a
iniciar não pela escrita de frases completas, mas apenas pela produção de
ideias. A partir da escrita da ideia principal, no centro da página, saem
outras ideias, que vão se ramificando, se subdividindo. Em vez de escrever as
ideias por meio de frases completas, o planejamento ocorreria apenas pela
escrita de palavras ou expressões curtas, por meio da produção do mapa
conceitual. Assim, o momento inicial seria simplificado, e o processo mais
complexo de escrita ocorreria em seguida. Isso contribui para que o educando
aprenda a se organizar de acordo com o tema daquilo que lhe foi solicitado. A
possibilidade de ser instruído a construir mapas mentais contribuiria para
simplificar o processo inicial, que é o de planejamento.
Considerações
Finais
Por fim, é preciso ter claro
que, crianças diagnosticadas com TDAH não são todas iguais e precisam de
atenção individualizada para a elaboração de uma intervenção adequada. Assim
como nos demais casos de diagnóstico, não é possível realizar uma intervenção
eficiente sem conhecer o educando individualmente. Uma boa maneira de iniciar a
investigação sobre as necessidades educacionais desses educandos consiste em
analisar as características de sua produção escrita. A partir disso fica mais
claro quais deverão ser as intervenções pedagógicas mais adequadas a cada caso.
Levando em conta as
necessidades surgidas no contexto escolar, a partir do momento em que os
familiares chegam à escola para matricular a criança e a equipe toma conhecimento
da situação, podemos perceber que a presença do profissional de psicopedagogia
no ambiente escolar poderá contribuir para a transformação de diversas
situações no contexto institucional. Uma dessas transformações poderia ser
considerada em relação ao conceito de aprendizagem significativa (Ausubel, 1980),
que demanda a necessidade do olhar individualizado em relação às aprendizagens
dos educandos. A partir do olhar especializado, as ações implantadas nos contextos
de aprendizagens poderão contribuir para minimizar ansiedades, seja do
aprendente, do ensinante, dos demais integrantes da equipe escolar ou das
famílias dos escolares diagnosticados com o TDAH. Certamente, a concretização
de um ideal de educação de qualidade para todos poderá receber grandes
contribuições decorrentes dos interesses de estudo provenientes da área da psicopedagogia.
Bibliografia
AUSUBEL, David P.;
NOVAK, Joseph D.; HANESIAN, Helen. Psicologia
Educacional. Rio de Janeiro: Editora
Interamericana, 1980.
DELL”
Isola, Alberto. Mentes
geniais. São Paulo: Universo dos Livros, 2011.
NUCCI,
Guilherme de Souza. Estatuto
da Criança e do Adolescente Comentado.
Rio
de Janeiro: Forense, 2014.
ROTTA,
OHLWELER, RIESGO (orgs). Transtornos
da aprendizagem: abordagem neurobiológica e Multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2016.
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