1° Encontro
Explicação
A
Psicopedagogia, como campo do saber interdisciplinar, busca dialogar com
diferentes disciplinas e, a partir disso, oferecer respostas às demandas existentes
nas comunidades em que o profissional desenvolve suas atividades. Uma das esferas
em que a Psicopedagogia é capaz de apresentar suas contribuições corresponde
aos anos iniciais do desenvolvimento, por meio da observação e intervenção, quando
a instituição demonstra algum entrave para a construção do conhecimento. Às
vezes, a atuação do profissional de Psicopedagogia pode ocorrer de forma
preventiva. Algumas comunidades, nesse sentido, podem, em decorrência da
fragilidade social, demandar ações para esse tipo de atuação, como ocorre
quando o profissional se dedica a orientar famílias em situação de risco,
decorrentes da pobreza, alta incidência de alcoolismo e drogadição. A
apresentação a seguir propõe uma reflexão aos responsáveis e funcionários que
atuam diariamente com as crianças, melhorando as qualidades vinculares e
servindo como local onde o público atendido possa se sentir seguro e estimulado
para o adequado desenvolvimento de suas potencialidades.
A Teoria do Apego
Gomes
(2012) nos informa que durante o período da segunda guerra mundial (1939-1945),
os estudiosos da psicanálise puderam verificar vários aspectos que demonstravam
o sofrimento de crianças que eram separadas do convívio com seus familiares, em
decorrência do número de mortes causadas por constantes bombardeios. A Clínica
Tavistock, fundada em Londres, durante os anos 1920, tratava dessas crianças,
nas quais era comum encontrar, em decorrência de traumas, sintomas como
tremores, paralisias e alucinações, entre outros sintomas. John Bowlby foi um
importante pesquisador nesse período. Para Bowlby, a natureza do apego
existente entre seres humanos seria equivalente a outros instintos de
preservação, como a fome e a sede. A Teoria do Apego foi desenvolvida durante a
segunda metade do século XX por esse autor. Essa teoria estuda a natureza do
vínculo entre mãe e bebê. Os seres humanos, assim como os animais, tendem a
estabelecer vínculos que se tornam insubstituíveis. Algumas pesquisas a
respeito das relações vinculares entre seres humanos apontam para a relevância
desse aspecto para o desenvolvimento saudável da espécie. Nos anos 1950, um
cientista chamado Harlow realizou pesquisas com um grupo de macacos Rhesus e
pode comprovar resultados interessantes ao retirar esses animais do convívio
com suas mães. Conforme observado, o comportamento desses macacos passou a ser
caracterizado pela presença de movimentos estereotipados e pela
autoestimulação, como demonstrado pelo hábito de sucção dos dedos dos pés e das
mãos. De acordo com as conclusões obtidas na pesquisa, esses comportamentos não
foram encontrados naqueles exemplares da espécie que receberam estimulação
normal por parte de suas mães (Gomes, 2012, p. 16; Cruz e Caromano, 2011, p.4).
A
observação de aspectos como os anteriores fez com que Bowlby se interessasse
pelo estudo das consequências dos laços afetivos rompidos na fase inicial do
desenvolvimento do indivíduo. A formação de uma vinculação tão expressiva se
deveria à condição fisiológica vulnerável do bebê, levando-o a identificar no
ambiente alguém que seja capaz de suprir os cuidados de que necessita para sua
sobrevivência. Esse aspecto ganha especial relevância para a Teoria do Apego,
pois a forma como esse vínculo inicial se constitui forma a matriz para os
relacionamentos do indivíduo posteriormente, repercutindo no bem estar e na
qualidade de vida do sujeito, quando suas necessidades são atendidas. Citando
Bowlby (1988), Gomes, (op. cit., p. 12) afirma: “O comportamento de apego é definido, então, como qualquer forma de
comportamento que resulta de uma pessoa alcançar e manter proximidade com algum
outro indivíduo considerado mais apto para lidar com o mundo”. E completa
dizendo que: “Chorar, sorrir, fazer
contato visual, buscar aconchego e agarrar-se ao outro são ações que compõem o
repertório comportamental básico de apego”. Ainda conforme Bowlby, as
condições que ativam o comportamento de apego decorrem de fome, cansaço ou de
sentir-se ameaçado por situações que a criança considera como estranhas ou
ameaçadoras. As “condições terminais”, ou seja, que fazem cessar os incômodos
anteriores, consistem em ver, ouvir e interagir com a “figura de apego”. A
“busca de proximidade” seria uma necessidade inata em seres humanos,
relacionado à busca de sobrevivência. Podem ser mencionadas, ainda, as
conclusões de Hermann (1976), para quem o comportamento da criança envolve
também um “instinto se exploração do ambiente” (Gomes, p. 17), evidenciando que
o desenvolvimento da criança demanda tanto proteção quanto a oferta de
autonomia.
Afetividade e
Desenvolvimento Infantil
Outra
pesquisa apontada por Field (2004, p. X) menciona os resultados de pesquisas
que correlacionam a baixa agressividade com a maior oferta de toques afetuosos.
Em contrapartida, locais onde o toque afetuoso é menos expressivo,
evidenciariam a maior incidência de contatos físicos agressivos. Field (2004)
aponta para a conclusão de estudos científicos que sugerem que o toque
contribui para o ganho de peso corporal em bebês prematuros, massa óssea e
reduza as crises de choro e os efeitos do estresse. No âmbito emocional, o toque suave transmite segurança, conforto e
amor. A ausência do contato físico possui implicações para o crescimento e para
o bem estar. Pesquisas com crianças que vivem em orfanatos indicaram a relação
entre a falta de contato físico carinhoso pode trazer influências para o
desenvolvimento físico dessas crianças, que às vezes chegam a apresentar apenas
metade do peso esperado para suas idades (idem). Além disso, o próprio
desenvolvimento cognitivo demonstra que a ausência do toque afetuoso traz
consequências para essa esfera do desenvolvimento. Bowlby conduziu
estudos que evidenciaram que a delinquência presente em atitudes
comportamentais apresentadas pelo público-alvo pesquisado (44 sujeitos com
idades entre 5 e 16 anos de idade) em sua amostra poderia ser explicada não por
fatores de natureza econômica, mas em decorrência das “ primeiras experiências
afetivas da infância” (Gomes, 2012, p. 18).
A oxitocina é uma substância liberada através do
toque carinhoso, evidenciando que as crianças que o recebem apresentam menor
incidência de dor, bem como menor número de queixas relacionadas a problemas de
atenção e comportamento (Field, 2004). Quando as condições
ambientais são favoráveis, ocorrem melhoras em nível de redução do cortisol,
repercutindo positivamente no âmbito cardiovascular e gastrointestinal, o que
favorece a digestão e o aproveitamento dos nutrientes. A importância dessa
substância natural para o organismo pode ser verificada pelo fato de que a oxitocina
é utilizada para tratar déficits de aprendizagem relacionados a altos níveis de
stress.
Benefícios da interação social positiva
Um
padrão de relaxamento e bem estar pode ser favorecido por interações sociais
positivas, como pelo sentimento de pertencer a um grupo. O bem estar e o relaxamento
fisiológico podem ser alcançados também por um banho morno, exposição ao calor
e alimentação e interações.
Os cuidados que interferem na qualidade
do sono
Pesquisas
sugerem que já no primeiro trimestre de gravidez, o feto já está harmonizado
com o ritmo de funcionamento da mãe. O sono adequado é um fator necessário ao
desenvolvimento normal da criança. Os bebês nascidos a termo dormem até 70 % do
dia, enquanto que os não nascidos a termo podem dormir até 90% do período de um
dia (Field, 2004). Devido à importância do sono para o desenvolvimento saudável,
é importante assegurar que o mesmo seja tranquilo. Contribui para isso a adoção
de atitudes como segurar o bebê, tocá-lo, manter contato físico, o que pode ser
feito pelos seus cuidadores.
A Importância da Massagem para o
Desenvolvimento do Bebê
As
autoras Cruz e Caromano (2011, p. 3) afirmam: “Sabe-se hoje que, aplicada em bebês e crianças, a massagem facilita o
crescimento, melhora a atenção e o aprendizado, assim como a função imunológica
e o relacionamento entre a criança e o cuidador”. E afirmam que mesmo nos
casos de mães que não receberam treinamento formal para massagear seus filhos,
nota-se que o simples ato de tocar o bebê já promove reações fisiológicas
benéficas. No Ocidente, a massagem para bebês começa a ser praticada a partir
de 1976, a partir de sua introdução, pelo obstetra Frédérick Leboyer, da
Shantala nos países da Europa. No Brasil, o início se deu a partir de 1980, com
a iniciativa da pedagoga Maria Aparecida Gianotti, que apresentou uma técnica
chamada “O Toque da Borboleta”, cuja autora foi Eva Reich (op. cit. p. 7). No
caso da Shantala, esse nome é explicado da seguinte maneira. O já mencionado
Frédérick Leboyer observou uma mãe indiana sentada no chão, com seu filho sendo
massageado. Em homenagem ao nome da mãe que realizava a massagem, a técnica foi
trazida para o Ocidente com o nome Shantala (op. cit. p. 14). Na Índia, a mães
massageam os seus filhos até que esses completem três anos de idade. A partir
daí, as massagens continuam sendo feitas uma ou duas vezes por semana, até as
crianças completarem seis anos.
A Resposta Fisiológica à Massagem
A oxitocina
é uma substância liberada não apenas durante o momento da amamentação, mas
também quando a criança é estimulada pelo toque afetuoso. Os níveis da
substância oxitocina são aumentados após a oferta de 10 ou 20 minutos de
massagem. A massagem também aumenta os níveis do hormônio do crescimento,
afetando positivamente o crescimento celular (idem). Em decorrência da importância da linguagem afetiva do toque para o
desenvolvimento infantil, autores atuais têm orientado as professoras de
berçário (nursery school), procurando estimulá-las a realizar massagens em
crianças dessa faixa etária (Field 2004). Esta autora menciona ainda
a realização de um estudo composto de dois grupos. Num deles, as mães
realizavam os procedimentos usuais com os seus bebês, antes de os colocarem
para dormir. O outro grupo recebeu orientações sobre a oferta de massagem
terapêutica aos bebês. As mães desse segundo grupo proporcionavam 30 minutos de
massagem diariamente aos seus bebês, no período entre oito e nove horas da
manhã, após a primeira refeição e banho. Nesse momento, a genitora devia
segurar a cabeça do bebê com cuidado com uma das mãos, enquanto que, com a
outra, realizava movimentos circulares sobre as costas, com contato direto
entre a mão da mãe e a pele das costas do bebê, em um ritmo de três vezes por
segundo. O grupo constituído das demais mães realizavam as atividades como de
costume, sem ofertar a massagem terapêutica. Os resultados obtidos ao final
desse período em que a massagem foi oferecida comprovaram a existência de
reação positiva dos bebês do grupo que teve acesso à massagem terapêutica, em
relação aos que não receberam, pois nos casos em que a mesma foi ofertada,
ocorreram melhores níveis de produção da melatonina, verificados no momento em
que a massagem foi oferecida. A rotina da massagem foi considerada nesta
pesquisa como um fator importante no ciclo do sono-despertar dos bebês que a
receberam (Field, 2004). Outro estudo menciona ainda que crianças que são
massageadas durante o cochilo demonstram menor irritabilidade, pegam no sono
mais rapidamente e apresentam sono mais profundo. Ainda sobre esse aspecto,
pais são chamados a colaborar, massageando seus filhos antes de irem para cama,
os quais notaram mudanças positivas na qualidade de vida dos filhos (Field,
2004).
Discussão: Pontos
para Refletir
Podemos
considerar a função dos professores de creche e pré-escola como de extrema
importância para o desenvolvimento integral das crianças, pois a adequação
ambiental possibilita induzir o relaxamento o relaxamento e as condições
adequadas de saúde e crescimento.
Você
acha que a oferta de condições adequadas no ambiente escolar ganha relevância
nos casos de crianças que apresentam história de vínculos rompidos?
Como
agir de modo a oferecer estímulos em ambos os sentidos à criança, ou seja,
assegurar de que receba proteção e estimulação à exploração do ambiente?
Observação: Poderíamos
considerar essa primeira apresentação como uma forma de introdução ao assunto,
nos aprofundando melhor na prática em momento posterior.
Bibliografia
CRUZ, Cláudia Marchetti Vieira da;
CAROMANO, Fátima Aparecida. Como
e porque massagear o bebê: do carinho às técnicas e fundamentos. Barueri (SP): Manole, 2011.
FIELD, Tiffany. Touch and
Massage in Early Child Development. Johnson & Johnson
Pediatric Institute, 2004.
GOMES, Adriana Albuquerque. A teoria do apego no contexto da produção
científica contemporânea. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012.