Sou psicopedagogo e criei este espaço, entre outros motivos, para compartilhar impressões pessoais de leitura e também para ouvir opiniões de estudiosos com interesses afins. Estamos vivendo em uma época privilegiada, no que diz respeito ao acesso à informação. Portanto, tiremos proveito positivamente das possibilidades existentes. Disponibilizo, a seguir, meu e-mail para quem tiver interesse em trocar experiências ou esclarecer alguma dúvida: e-mail: pfabioalexandre@yahoo.com.br.
sexta-feira, 23 de março de 2018
quinta-feira, 15 de março de 2018
A Importância da Oferta de Adequações Pedagógicas no Atendimento e Auxílio aos Educandos com Dificuldades Específicas de Aprendizagem
O Caso de Carlinhos (nome fictício)
Carlinhos
é um dos muitos meninos que aos 11 anos encontra-se cursando o 6º ano do ensino
fundamental. Quando a queixa de sua dificuldade de aprendizado é recebida,
percebo que está bastante desanimado em relação aos estudos escolares. Em um
momento de conversa informal, afirma que gostaria de deixar os estudos e
começar a trabalhar. Isso ocorre não tanto por necessidades financeiras da
família, mas sobretudo porque a escola parece não ter muito sentido para ele.
Proponho, a seguir, uma síntese das observações obtidas ao longo dos atendimentos
realizados.
Entrevista com a responsável
A
genitora esteve na escola para conversar com o psicopedagogo a respeito das necessidades
educacionais de C. Na ocasião, mencionou que o mesmo estava sendo atendido por
neuropediatra desde o 4° ano escolar e que obteve a hipótese diagnóstica de
dislexia, em decorrência do que o clínico sugeriu, na ocasião, que a
responsável buscasse alternativas metodológicas para o trabalho pedagógico,
como os métodos multissensoriais, a fim de oferecer melhores condições para o
progresso de C. nos estudos escolares.
Em
data posterior, a responsável compareceu novamente à escola, trazendo a
devolutiva dos resultados da avaliação realizada pelo neuropediatra, constando
ter sido diagnosticado com dislexia e déficit de atenção. Entre as ações do
especialista, ocorreu o início do tratamento medicamentoso de C. em decorrência
do déficit atencional. Além disso, foi sugerido pelo mesmo, à escola, a
realização de adequações pedagógicas, como oferta de mais tempo para a
realização das “provas” e também oferta de calendário e tabuada. Quanto à
história da aprendizagem de C., foram feitas as seguintes observações. C.
encontrou progressos significativos no período em que cursou o 4º e 5° anos
escolares, tendo sido alfabetizado no decorrer de um trabalho realizado nesse
momento por sua professora de sala comum das referidas séries. Posteriormente,
ao seguir seus estudos em outra unidade escolar, teria apresentado
comportamento “regredido”, conforme a entrevistada, em relação aos avanços
pedagógicos evidenciados no período já referido. Nesse momento, a responsável manifestou
preocupações quanto à importância da escola no sentido de contribuir para que C.
seja capaz de desenvolver sua autoconfiança em sua capacidade de aprendizagem.
Outras
questões surgidas durante a entrevista com a genitora e, em seguida, com o
próprio educando, permitiram perceber outras áreas de desempenho em que C.
mostra-se autoconfiante, tais como as que envolvem relacionamentos interpessoais,
comunicação oral, desenho e atividades de robótica.
Observação dos Conhecimentos Escolares
Conhecimento da Lectoescrita. Sua
leitura é fluente, com um pouco mais de dificuldade nas palavras menos comuns e
com alguns erros que ele próprio corrige, pronunciando adequadamente em
seguida. Sua escrita é rápida e os poucos erros que cometeu são de ordem
ortográfica. Afirma ter dificuldade para escrever e pensar ao mesmo tempo. Ao
reler o texto para o aluno, ele comentou que entende melhor quando ouve a
leitura feita por outra pessoa.
Conhecimento matemático. Adição. Realiza operações de adição,
fazendo cálculos mentais com unidades e dezenas. Nas centenas, utiliza recurso
concreto (conta nos dedos). Subtração. Realizou
adequadamente operações envolvendo unidades e dezenas. Em algumas situações
chegou ao resultado incorreto, parecendo que isso decorreu de distração. Multiplicação. Foram propostos alguns
problemas simples, para verificar se compreende o conceito. Exemplos: “Quantas
patas tem 4 cachorros”..., respondeu, primeiramente, “20”. Depois corrigiu e
escreveu “16”. As questões foram lidas pelo próprio educando, com autonomia. Divisão. Como no caso anterior, algumas
atividades similares foram apresentadas, evidenciando alguns erros por
distração e dificuldade para visualizar a problema proposto.
Aspectos atencionais. Durante
os atendimentos realizados, distraiu-se várias vezes com os estímulos
ambientais próximos.
Aspectos emocionais. A
dificuldade de C. parece conter algo de emocional, pois apresenta melhor
desempenho na escrita do ditado do que durante a leitura, pois neste último
caso há a presença da insegurança, uma vez que não ocorre gagueira ao
conversar. Pareceu estar desmotivado em relação aos estudos escolares. É
importante não expor as dificuldades do educando diante dos demais.
Relacionamentos. Algumas
queixas relacionadas ao educando no presente ano letivo fizeram referência aos
seus relacionamentos interpessoais. Quando compareceu à escola para tratar
sobre esse assunto, a responsável disse que o filho já havia recebido
atendimento psicológico. No entanto, C. relata que ainda é frequente a presença
de algumas situações que poderiam necessitar de nova avaliação, como pesadelos,
motivo pelo qual a oferta de novo encaminhamento para atendimento psicológico
foi disponibilizado à responsável.
A Importância de Oferecer Adequações
Pedagógicas
A
solicitação para que realize leitura em voz alta diante dos colegas costuma
gerar sentimento de ansiedade, motivo pelo qual acreditamos que essa prática
deveria ser evitada neste momento. De acordo com o relato do educando, a sua
dificuldade na disciplina de língua portuguesa parece estar mais no nível de
compreensão da leitura de textos maiores e de produção textual. Como observou
durante outro atendimento, não se sente capaz de pensar e passar para o texto
ao mesmo tempo. Por isso, sente-se mais apto a realizar as tarefas envolvendo
leitura e respostas escritas quando essas são precedidas da possibilidade de
ouvir a leitura do texto em questão sendo realizada em voz alta pelo professor
ou um colega da sala.
Na
impressão do aluno, dentre as estratégias pedagógicas adotadas por seus
educadores, uma explicação adicional tem sido o recurso que mais contribuiu
para os avanços obtidos em seu aprendizado até o momento. Por isso, disse ter
sido ajudado nas ocasiões em que pôde obter esse tipo de ajuda dos educadores ou
de colegas, realizando atividades em dupla, por exemplo.
Além
dessas questões, foi observado que C. frequentemente sente dificuldades para
encontrar estratégias adequadas para resolver situações-problema. Seria
vantajoso abordar as possibilidades de resolução de problemas com estratégias
que favoreçam o ensino explícito de estratégias metacognitivas.
Conclusões. O
presente caso evidencia a importância que a atenção individualizada, bem como a
oferta de adequações, representa no sentido de resgatar a confiança do educando
em suas potencialidades para o aprendizado, resultando na promoção de seus
conhecimentos, por meio da ressignificação da atuação escolar.
Entre
as intervenções possíveis, a fim de auxiliar os educandos com dificuldades de
aprendizagem escolar, poderíamos considerar ainda a importância dos projetos de
desenvolvimento emocional baseados na comunicação com o lado direito do
cérebro. Mas sobre esse aspecto, darei maiores detalhes no próxima postagem.
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