Olhando em retrospectiva, após quase
dez anos de experiência na prática da Psicopedagogia em instituição escolar,
percebo que as ações psicopedagógicas que fui desenvolvendo podem ser agrupadas
a partir de dois critérios, que abrangem a totalidade das atividades realizadas
na instituição. O primeiro critério vou chamar de Psicopedagogia como Pedagogia
da Diferença; o segundo, de Psicopedagogia por Realização de Projetos. O
paradigma do atendimento na Pedagogia da Diferença é o atendimento a cada um,
de modo individualizado, enquanto que o paradigma na Psicopedagogia por
Realização de Projetos é o atendimento a todos, ou seja, ao coletivo escolar.
Na Psicopedagogia como Pedagogia da
Diferença, incluo todas as ações destinadas ao atendimento das necessidades
educacionais decorrentes de dificuldades de aprendizagem, distúrbios e
síndromes. Nesse caso, as ações exigem do psicopedagogo a tomada de consciência
das principais características do quadro apresentado pelo educando em questão
para, a partir disso, oferecer suporte pedagógico, por meio da orientação aos
próprios educandos, aos educadores e às famílias presentes na comunidade. Para
isso, o profissional deve estar a par das características das diferentes
dificuldades que podem se instalar no processo de ensino e aprendizagem. Por
exemplo, a dislexia, que constitui a hipótese diagnóstica apresentada por
determinado (a) aluno (a), poderá exigir um programa de reforço distinto, mesmo
no caso de dois sujeitos que apresentem esse quadro. No primeiro, pode estar
envolvida predominantemente a rota lexical, enquanto em outro a rota fonológica
poderá ser o âmbito de maior necessidade de intervenção, o que exigiria a
apresentação de programas de intervenção distintos em alguns pontos. Além
disso, um (a) dos (as) alunos (as) poderá apresentar comprometimento em
aspectos emocionais, como em sua autoestima, enquanto o (a) outro (a) não
demonstrará tal necessidade. Portanto, mais do que tomar conhecimento de um
conjunto de características comuns à determinada dificuldade, o profissional
irá se deparar com aspectos individuais que exigirão sua atenção. O desafio de
um processo de acompanhamento psicopedagógico individualizado desfaz a ilusão
de que dois educandos com a mesma dificuldade de aprendizagem podem ser
atendidos de maneira idêntica.
Além dessas ações, o bom
acompanhamento do (a) educando (a) com dificuldades de aprendizagem exige a
elaboração de informes psicopedagógicos que serão enviados aos demais
especialistas da rede de apoio que acompanhem o caso. Pode acontecer, por
exemplo, de um (a) mesmo (a) aluno (a) ser atendido por diferentes
especialistas, como pediatra, fonoaudiólogo (a) e psicólogo (a). Quando
reunidos periodicamente, esse relato pode resultar em uma discussão muito
produtiva, já que haverá a oportunidade de uma abordagem inter e
multidisciplinar, que poderá contribuir com uma síntese favorável no sentido de
agilizar ações, poupando o (a) educando (a) e sua família de sofrer os efeitos
da morosidade decorrente do trânsito desnecessário entre especialistas, o que
resultaria em ações ineficazes à promoção do tratamento.
Na Psicopedagogia por Projetos, como
afirmado anteriormente, a ações se destinam a toda a instituição. Nesse
sentido, o profissional precisa tomar conhecimento das condições específicas da
clientela onde desenvolve suas atividades. Assim, as principais
vulnerabilidades apresentadas em determinada comunidade poderão envolver
situações recorrentes de bullying entre os (as) alunos (as), risco de
drogadição ou maior incidência de casos de gravidez na adolescência, para
mencionar apenas alguns exemplos em que pude observar a obtenção de resultados
positivos após a realização de projetos de iniciativa de profissionais da
Psicopedagogia.
Em cada caso, será necessária a
reflexão sobre o problema, esclarecendo de que maneira ele constitui um entrave
ao processo educacional, bem como elencar as ações necessárias para minimizar
suas consequências sobre o aprendizado. Portanto, a realização de projetos será
precedida de uma investigação que aponte as maiores dificuldades presentes na
comunidade, resultando em ações direcionadas aos educadores, educandos e famílias.
Para tanto, no caso de temas que exigem a abordagem especializada e que
transcendem o campo de formação do profissional, este poderá verificar os
recursos humanos disponíveis para a realização do projeto, convidando outros
profissionais para colaborar, por meio da realização de palestras envolvendo
temas específicos, por exemplo.
Acredito que várias consequências
positivas podem decorrer da atuação do profissional de Psicopedagogia em
instituições. Ressalto, a seguir, algumas das que acredito serem as mais
significativas. No desempenho da Psicopedagogia como Pedagogia da Diferença, um
desses aspectos positivos se relaciona às próprias condições de formação do
profissional na área da Psicopedagogia, pois esta o instrumenta para realizar a
orientação do processo educacional de forma imediata, isto é, sem a necessidade
de recorrer a outro tipo de apoio, nos casos relacionados à grande parte das
dificuldades no processo de aprender. Outro aspecto que merece atenção é que a
presença da Psicopedagogia na instituição, enquanto campo de investigação interdisciplinar
e multidisciplinar, favorece as condições para a efetiva inclusão do (a)
educando (a) no sistema educacional, proporcionado o apoio individualizado
necessário para tanto, uma vez que o (a) psicopedagogo (a) se coloca como mediador
(a) do processo, ao desempenhar ações que transitam entre a educação e os demais
serviços necessários ao atendimento das necessidades individuais, como a saúde
e a assistência social. Ressalto ainda que a presença do profissional na
instituição escolar colabora para efetivar o ideal educacional da formação
permanente, pela instauração da interlocução no processo educativo. Por fim,
gostaria de destacar que, na Psicopedagogia por Projetos, o profissional
desenvolve ações que auxiliam o processo educacional dentro de uma perspectiva
global do desenvolvimento humano, contemplando a afetividade, o autocuidado e a
responsabilidade coletiva, resultando em uma prática capaz de dinamizar os
esforços da instituição em favor de uma educação para a vida em sociedade.