O
texto apresentado a seguir foi, originalmente, apresentado em forma de slides e
corresponde a um estudo psicopedagógico apresentado a uma equipe de educadoras
da educação infantil. Quero compartilhar o conteúdo, para que os psicopedagogos
que tiverem interesse pelo tema possam extrair ideias para a multiplicação da
sensibilização dos profissionais envolvidos na educação voltada a essa faixa
etária, pois é necessário compreender as principais transformações ocorridas
até os cinco anos de idade, a fim de auxiliar as crianças em seu
desenvolvimento integral. A duração da exposição transcorreu pelo período de 90
minutos.
Contribuições à Psicopedagogia a Partir da
Narrativa de Cupido e Psique
“O amor não pode conviver
com a desconfiança” (T. Bulfinch).
O A estória de Cupido e Psique apresenta alguns
elementos de interesse dos profissionais dedicados ao desenvolvimento das
crianças, porque traz certos aspectos comuns ao trabalho pedagógico.
O Esses elementos, que estão relacionados aos
personagens da história, são: Desejo
(Psique), Ignorância (Cupido), Poder (Venus) e mediação (Ceres, deus-rio, voz da torre).
O Desejo: Ao
iniciar a existência humana, o primeiro objeto de desejo é o seio materno e,
portanto, o desejo atravessa a história da vida de uma pessoa. A contrapartida
do desejo é a angustia (Ferrari, 2008, p. 55).
O As atribuições dos educadores podem se concretizar
como uma ação caracterizada pela afetividade, ou, de modo contrário, pela
impessoalidade e até mesmo pelo autoritarismo. No último caso, haverá consequências
negativas para o desenvolvimento.
O Por outro lado, se as relações humanas pautadas
pela afetividade perpassarem nossa prática, iremos contribuir para ajudar as
crianças a alcançarem melhores condições de desenvolvimento psíquico, cognitivo
e interpessoal.
O Ignorância: os
efeitos da ignorância, embora não intencionais, podem ser muito prejudiciais.
O Mediação: Em
diversas situações durante a nossa existência, somos incapazes de chegar ao que
desejamos sem a ajuda ou a mediação de outros.
O A mediação é o processo de se interpor entre o
sujeito e seu objetivo. A primeira oferta de mediação que o bebê recebe vem de
sua mãe. Na história contada, a ansiedade de Psique, ao pensar que seu desejo
seria inalcançável, levou-a à angústia e ao desespero.
O A possibilidade que o adulto tem de intervir e
organizar as condições que agem sobre a criança, minimizando a ansiedade é um
fator importante para que a criança se sinta segura. Às vezes essa ansiedade é
proporcionada por algum tipo de gratificação que a criança não consegue adiar.
Lembremos que a criança já tem contato com o desejo nos primeiros momentos da
vida, mas a capacidade de se acalmar precisa ser desenvolvida.
OS VÍNCULOS INTERPESSOAIS NOS MOMENTOS INICIAIS DA
VIDA
O Vínculos Fortalecidos Facilitam o Desenvolvimento
Saudável
O De todos os vínculos estabelecidos, aqueles
constituídos nos períodos iniciais da vida do sujeito serão os mais
importantes, sendo que as matrizes constituídas nesse momento poderão se
repetir, ou mesmo perpetuar-se ao longo da vida (Ferrari, 2008, p. 36).
O Vinculações humanas afetivas sustentam o sujeito e
proporcionam saúde mental, seu crescimento e a realização de seus projetos de
vida. Quando esse apoio se perde, ou entra em crise, a saúde mental fica ameaçada.
Os conflitos humanos inconscientes implicam a relação com os vínculos (idem).
O Podemos exemplificar, nesse último caso, aquela
criança que regride, que já havia deixado de fazer xixi na cama, que volta a
fazer, depois de saber que a mamãe está grávida. Conflitos são inevitáveis e
não podemos ser neutros em relação a eles, pois, como lembra Ferrari (2008, p.
36), o conflito é o motor do crescimento ou da estagnação do desenvolvimento
humano (Ferrari, 2008, p. 36).
O “A saúde
mental não é um bem solitário, mas solidário” (Ferrari, p. 37).
O Então, isso poderia nos fazer refletir naqueles
casos em que a criança faz uma birra e o educador pede que encaminhe imediatamente
para tratamento. O fato é que seria importante perguntar: O que você já observou
a respeito dessas birras? O seu vínculo com a criança é forte o suficiente para
que a criança se sinta segura?
A IMPORTÂNCIA DAS INSTITUIÇÕES PARA A SAÚDE MENTAL
O “Todas
as atividades humanas podem ser beneficiárias das propostas de saúde mental, em
especial as institucionais e comunitárias” (Ferrari, 2008, p. 38).
O O que nos leva a pensar que a instituição escolar,
em decorrência do tempo que se dedica à educação e ao cuidado das crianças,
poderá assumir um papel que influenciará significativamente o desenvolvimento
posterior da criança.
OS PERIGOS DO EXCESSO DE REPRESSÃO
O Os sintomas neuróticos (obsessões, fobias,
histerias) são a forma como o reprimido alcança formas de se manifestar
(Ferrari, 2008, p. 55).
O SURGIMENTO DA CAPACIDADE DE SOCIALIZAÇÃO
O A socialização decorre da introjeção dos primeiros
objetos (Ferrari, 2008, p. 62).
O Se a interação da criança com os pais ou com as
demais pessoas for marcada por conflitos acentuados nessas interações, a
introjeção pode ocorrer de modo que a criança termine por internalizar modelos
de conduta muito prejudiciais a sua socialização.
O A dificuldade em introjetar aspectos positivos
poderá acabar em depressão, que poderá levar ao suicídio (Ferrari, 2008, p.
62).
O EDUCADOR DEVE SER CAPAZ DE INTERFERIR
POSITIVAMENTE NO AMBIENTE
O Conviver em um ambiente adequado leva-nos a
experimentar sensações positivas, fazendo com que o organismo produza dopamina,
que acarreta melhora do humor (Moraes, 2009, p. p. 134).
O Portanto, se desejamos um ambiente adequado ao
aprendizado, podemos interferir no estado de humor da criança. De que modo?
Criando um ambiente que possibilite que a criança vivencie sensações positivas.
A competência do mediador poderá ser um fator importante para a promoção do
desenvolvimento infantil.
O CONCEITO DE SEXUALIDADE NA PSICANÁLISE
AS ZONAS ERÓGENAS
O Inicialmente ligadas à função vital, logo as áreas
se dissociam (alimentação, micção, excreção), constituídas em zonas erógenas
(Ferrari, 2008, p. 56).
O A boca pode ser percebida como uma área erógena, já
na infância, pois além da função alimentar, vital, também pode ser concebida
como uma região ligada ao prazer quando, por exemplo, a criança usa a chupeta,
que remete a uma ação não vital, quer dizer, não necessária a sua
sobrevivência, mas unicamente à satisfação que o objeto causa, ao entrar em
contato com a boca.
O Isso pode ser percebido também no adulto, fase da
vida em que além da função alimentar (vital), percebe-se, por exemplo, que a
boca ocupa funções não vitais, como beijar. Quando ocorre a fixação nessa
região, a pessoa poderá desenvolver hábitos nocivos, como o tabagismo.
O Todo sujeito humano se acha marcado por suas
experiências infantis (Ferrari, 2008. p. 59).
NECESSIDADE HUMANA DE REALIZAÇÃO
O A energia sexual (libido), quando sublimada, pode
se transformar em produções humanas intelectuais, artísticas, esportivas, etc
(Ferrari, 2008, p. 55).
AS ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO SEXUAL INFANTIL DE
ACORDO COM A PSICANÁLISE
O Fase Oral (0-1
ano) A boca é uma região corporal privilegiada de relacionar-se com o mundo
externo, por meio da qual experimenta sensações agradáveis e desagradáveis.
O O movimento de sucção realizado ao ser amamentado
evidencia a relação entre tal movimento e o prazer experimentado ao fazê-lo,
que continua após a amamentação com o estímulo oferecido pela chupeta. Na falta
da chupeta, pode ocorrer de estimular a boca com os próprios dedos, por
exemplo, como algo que precede o adormecer. Outra característica da fase oral é
o costume do bebê de levar tudo que encontra à boca.
O O principal objeto de interesse da criança nessa
fase é o seio materno.
O A ausência do seio materno é a situação que leva ao
início da simbolização como característica da espécie humana. Simbolizar é
representar aquilo que está ausente. O seio materno é não apenas fonte de
nutrição (vital), mas também de algo que alivia as tensões associadas à fome e,
portanto, capaz de despertar a sensação de prazer (Ferrari, 2008, p. 61).
Fase Anal.
(De 1 ano completo até os 3 anos de idade).
O O bebê ganha autonomia e se reconhece como separado
da mãe. Experimenta prazer decorrente do controle da expulsão da urina e das
fezes. É o momento em que a criança consegue demonstrar o controle de
esfíncteres, em parte em decorrência da pressão exercida pelo ambiente. A
criança adquire a percepção de um novo poder.
O Devido ao fato de que as pessoas responsáveis pelos
seus cuidados exercem a expectativa de que a criança mantenha-se limpa, em
decorrência do afeto que a criança nutre pelos responsáveis por seus cuidados,
a criança busca corresponder a tais expectativas.
O É nesse sentido que a criança aprende a lidar com a
frustração.
O Caso seja mal conduzida, essa etapa pode acarretar
uma fixação no estágio.
FIXAÇÃO
O A fixação é
uma forma de permanecer apegado a características da fase em questão. Isso pode
ocorrer tanto em uma situação totalmente anarquizada quanto em condições de
exigência extrema.
O A adequada intervenção do educador é importante,
visto que: “Crianças pequenas vivem pelo princípio do prazer, um princípio
primitivo que faz com que ela queira a satisfação imediata e completa dos seus
desejos, sem levar em conta as consequências. Educar é ajudá-la a progredir em
direção ao princípio da realidade, a tomar consciência de que ela talvez se
sinta melhor se modificar alguns desejos, ou adiar sua satisfação em troca de
vantagens de maior alcance e importância, a ganhar autocontrole, a adaptar-se
às exigências que lhe são feitas, a conquistar uma identidade e maturidade”
(Lobo, 1997, p. 70).
Estimulação Necessária às Crianças que se Encontram
na Fase Anal
O Oferecer materiais que tenham consistência
semelhante às fezes, como plasticina e barro podem ajudá-la nesse sentido.
Valorizar as ocasiões em que a criança faz uso do Toilet no momento oportuno é
importante, pois contribui para o desenvolvimento de sua autonomia e
autocontrole.
O Por se tratar de um momento de internalização de
normas e controles do corpo, será muito importante o elogio e o encorajamento.
Dai em diante a criança começará a ter uma atitude diferente da anterior diante
das fezes. Se era indiferente, agora os achará repugnantes.
O Merece menção o fato de que algumas crianças,
orientadas por mães obcecadas por limpeza, acabam desenvolvendo a mesma atitude,
recusando-se a brincar para não se sujar.
Fase Fálica (4 – 5 anos).
O Ocorre, a partir desse momento, a manifestação de
grande interesse da criança pelos genitais, próprios e das demais pessoas de
seu convívio. O desejo de saber relacionado ao assunto pode incluir também
atividade masturbatória.
A Importância de Compreender as Características
Próprias desse Período
O Em decorrência das próprias características do
desenvolvimento, a criança torna-se mais narcisista. Isso não ocorre por
maldade. Devemos ter em mente que a maturidade é um processo gradativo.
Compreensão e elogio das ações altruísta da criança poderá ajudá-la a
internalizar as expectativas sociais.
Um Acontecimento Importante na Fase Fálica: O Complexo
de Édipo.
As relações começam a
triangulizar. A criança quer ter a atenção e admiração da mãe somente para si,
no caso do menino. Acontece o contrário com o sexo feminino. A menina deseja
ter para si a atenção e a admiração do pai exclusivamente para si.
O As relações começam a
triangulizar. A criança quer ter a atenção e admiração da mãe somente para si,
no caso do menino. Acontece o contrário com o sexo feminino. A menina deseja
ter para si a atenção e a admiração do pai exclusivamente para si. Essa fase do
desenvolvimento está acompanhada de ansiedade e sonhos de angústia. A resolução
dos conflitos envolve a identificação da criança com o genitor do sexo oposto.
O As hipóteses sobre a
sexualidade, que a criança vai construindo, leva-a, no caso do menino, ao
Complexo de Castração, e na menina, à Inveja do Pênis, que ocasiona o
progressivo afastamento da mãe em direção ao pai. Quando os conflitos são
superados, ocorre o surgimento do superego.
OUTRAS QUESTÕES IMPORTANTES PARA O DESENVOLVIMENTO
INFANTIL
O A autoconfiança ajuda a
superar os medos.
O Os medos da criança serão
superados mais satisfatoriamente, quanto maior for a confiança depositada nos
adultos responsáveis pelos seus cuidados (Lobo, 1997, p. 34).
A Influência do meio no Desenvolvimento da
Autoconfiança
O “Nenhuma criança nasce confiante e desconfiada. Isso
ela aprende, através das suas experiências. Se ela recebe carinho, se suas
necessidades básicas são satisfeitas, se não é enganada, se ela recebe atenção
e apoio, se sente protegida e segura, a criança aprende a confiar. É confiando
nos outros que ela ganha confiança em si mesma” (idem).
A linguagem do afeto
O O sentimento de amor deve
ser traduzido em uma linguagem que a criança possa compreender. Nesse sentido,
o amor é percebido pelos estímulos físicos que a criança recebe, como a
presença, o toque, o cheiro e a voz do adulto. Esses cuidados ajudam a criança
a organizar sua vida mental (Lobo, 1997, p. 68).
Segurança Emocional
O A segurança emocional é a
base para o desenvolvimento físico, afetivo e mental (Lobo, 1997, p. 69).
Conclusão
Devemos estar atentos ao
bem estar da criança e à promoção de seu desenvolvimento de forma integral.
Essa tarefa é complexa e exige conhecimento das características do desenvolvimento
infantil e disposição dos educadores para desenvolver situações que promovam a
aquisição das habilidades não cognitivas. Quando a instituição se envolve com
essas questões, pode interferir positivamente na qualidade de vida das comunidades,
contribuindo para aproximar a relação entre escola e famílias.
Bibliografia
BUDEL, Gislaine Coimbra; MEIER, Marcos. Mediação
da aprendizagem na educação especial. Curitiba: Ibpex, 2012.
BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia. Rio de Janeiro: Ediouro,
2006.
FERRARI, Héctor A. Salud mental em medicina. Rosario: Corpus Libros
Médicos y Científicos, 2008. 2ed.
LAPANCHE, Jean. Vocabulário da psicanálise. São Paulo: Martins
Fontes, 1991.
LOBO, Luiz. Escola de Pai: para que seu filho cresça feliz. Rio de Janeiro: Lacerda
Editores, 1997.
MORAES, Alberto Parahyba Quartim de. O Llivro do Cérebro 2: sentidos e emoções. São Paulo – SP: Duetto,
2009.